quarta-feira, 13 de março de 2013

Vagando Pela Noite Descobri...



Chovia... O suficiente para incomodar, mas não o suficiente para impedir aquela caminhada, a cada quadra que se seguia o entorno ficava cada vez mais sombrio, se afastava dos bares e dos jovens que bebiam despreocupadamente e embrenhava-se naquela região que ficava cada vez mais ignóbil.

Quase não haviam luzes aonde estava e as poucas que vinham dos postes próximos, brilhavam tímidas, num tom amarelo que quase transformava o cenário em uma ilustração de um livro velho. uma pessoa comum temeria pela sua segurança naquele lugar, mas não ele, naquele momento haviam questões mais importantes em sua mente.

Desistiu do guarda-chuva, prendeu-o na cintura e voltou a andar por entre putas e mendigos enquanto procurava aquietar sua mente, de repente, percebeu que havia comprado cigarros, mas, esqueceu que precisava acendê-los, mais alguns passos e parou ao lado de uma jovem encostada no batente macróbio de uma pequena porta iluminada por uma luz neon azul.

(Carlos)  - A senhora tem fogo?

(Prostituta) - Pagando o preço tenho sim moço, se me pagar um drink antes o fogo fica mais forte - E riu enquanto se aproximava do rapaz com movimentos friamente coreografados que deixavam a mostra um belo par de pernas.

(Carlos) - Ah Desculpe, me refiro a outro  fogo - estendeu o cigarro em direção a prostituta -.

(Prostituta) - Tenho sim, mas da próxima vez fala logo o fogo que vai querer.

Retirou um isqueiro escondido entre o par de seios voluptuosos, Carlos esqueceu-se completamente da sua postura usual e perdeu-se na visão a sua frente, até que, quando se deu por conta, havia uma mão estendida a sua frente com um Bic amarelo.

(Prostituta)  - Vai acender o cigarro ou vai ficar olhando pros meus peitos? já disse, tem certeza que é só esse fogo que você quer?  Me divirto com esses homens viu...

(Carlos)  - Desculpe - disse Carlos envergonhado, acendeu o cigarro rapidamente e devolveu o isqueiro a jovem, voltou a andar como um cão vadio olhando para o chão.

Não muito longe de lá, percebeu uma figura embaixo de um cobertor vindo em sua direção, seguiu na mesma direção até que ouviu:

 - Moço me arruma um cigarro?

Olhou melhor para a silhueta embaixo do cobertor acinzentado e viu um homem que devia ter aproximadamente sua idade mas que definitivamente não tivera a mesma sorte na vida, não pelos dentes podres ou pelas cicatrizes mascaradas pela barba desgrenhada, mas sim pelo olhar sofrido que trazia no rosto. Neste instante pensou em oferecer o cigarro, mas lembrou-se que não tinha isqueiro e sentiu nojo em oferecer o próprio cigarro aceso para servir de brasa, acendeu ele mesmo um cigarro e estendeu ao mendigo que retribui dizendo:

(Mendigo) - Ta querendo comprar uma droga?

(Carlos) - Não, tenho cara de quem quer comprar droga?

(Mendigo) - Sei lá, por que mais alguém viria aqui as 3 da manhã embaixo chuva e sozinho se não fosse pra comprar um baseadinho?

(Carlos) - Não estou aqui pra comprar nada, só estou caminhando - disse num tom ríspido enquanto virava pro lado e voltava a caminhar deixando a silhueta castigada pra trás.

Andando a passos largos colocou-se a pensar nos dois episódios que acabara de presenciar, as condições em que estavam a prostituta e o mendigo e por um momento seus problemas  mudaram de perspectiva e pareceram muito menores que antes. Foi então que se deu conta, caminhando pela noite descobriu que era humano, e como tal, tem o costume de enxergar seus próprios problemas, como os mais graves de toda a humanidade. E seus passos soaram mais leves naquele fim de madrugada.