terça-feira, 18 de agosto de 2009

"Como você punirá aqueles cujo remorso já é maior do que os seus crimes?" (Kahlil Gibran)

Sentou-se, o relógio no alto marcava 17:45, pediu um café, procurava mostrar-se forte, mas por dentro havia uma série de sentimentos desconexos, um frio lhe percorria a espinha, tal qual um adolescente prestes a dar seu primeiro beijo, tinha um medo colossal que tudo desse errado e pressentia o pior. Mesmo assim não perdeu a esperança de que aquele encontro seria o início do resgate de sua felicidade, um encontro consigo mesmo, a libertação de seu ethos mais puro e sincero, talvez o único que pudesse torná-lo feliz novamente.

Alguns minutos após, ela apareceu, altiva, firme, mas demonstrava no olhar um pesar, quase um luto, talvez porque soubesse que estava prestes a sepultar aquele que um dia fora seu grande amor, em alguns instantes iria pela última vez encarar os olhares inconvenientes de Carlos, inconvenientes porque traziam neles um sentimento que por muito tempo ela carregou mas que agora se foi, perdeu-se na areia do tempo.

- Alguns minutos de conversa se passaram até que:

Carlos - Ângela reconsidere, reconheço, eu errei, mas se errei foi pelo medo de te perder, quis deixar que você vivesse e aproveitasse seus momentos, não quis te privar de nada, para um dia poder tê-la por completo pelo resto de nossas vidas.

Ângela - Não quero mais, você é muito caos para o meu mundo, seu jeito incorrigível, amargo. Eu só preciso de paz, mesmo que sozinha e solitária. Meu caro, não tenho medo em dizer-lhe: Foi o amor da minha vida . Porem, mudei de vida e nela não há espaço para o nosso amor.
Aquelas palavras atingiram Carlos como disparo de arma de fogo, a cada palavra sentiu sua alma sendo atravessada, rasgada, e nada pode fazer, ficou impossível mostrar-se firme, em cada lágrima que derrubava, expressava a derrota, sentia sua alma escorrendo sob seu corpo e se esvaindo pelo ralo da racionalidade, não sabia definir o que sentia, e desta maneira Ângela deu um forte abraço em Carlos e enxugou suas lágrimas, era curioso, aquele que se orgulhava por jamais ter chorado na presença de estranhos, estava ali, chorando copiosamente em frente a dezenas de estranhos.

Ao ser abraçado por Ângela pensou que mesmo aquilo sendo um "prêmio de consolação" jamais esqueceria a sensação de tê-la novamente nos braços. Mesmo frio e distante sentiu por alguns poucos segundos o calor da mulher que amava.

Ângela - Bom agora me vou, e Carlos, gostaria que você soubesse que possivelmente nós não nos veremos mais.

Carlos - Ângela , antes de ir gostaria de te dizer mais uma coisa.

E por alguns instantes era notória a dificuldade que enfrentava, não conseguia falar aquilo que estava literalmente engasgado na garganta.

Ângela - Não precisa, talvez seja melhor que acabe assim.

Carlos - Não, eu quero dizer que não me arrependo de nada que fiz nem do que falei, quero te dizer que se um dia você mudar de idéia e quiser me ver que não tenha medo, pois foi exatamente esse medo que me tirou você, em qualquer momento de nossas vidas, me procure, pois só então eu poderei ser feliz. E queria dizer que vou sempre te esperar... Porque... Eu... Te Amo.

Estas últimas palavras foram seguidas por um soluçar de choro contido vergonhosamente por Carlos que tentava reservar o mínimo de dignidade que lhe restava.

E assim viu a mulher de sua vida se afastando, partindo para nunca mais voltar, sentia que junto com ela, perdia parte de si, não mais poderia ser o cara alegre que fora nos últimos anos, e que todas as incontáveis vezes que sonhou antes de dormir com o dia em que conseguiria tê-la em seus braços de forma definitiva, que cada um dos versos que fizera em sua homenagem foi em vão, em última instância o que restou fora talvez um grande sentimento de pena por parte de sua amada, e nada pior na vida do que ser digno de pena pensava Carlos.

Foi pra casa e tão logo entrou já foi pro chuveiro, entre as milhões de coisas que lhe passavam na cabeça lembrou de uma música que fazia todo o sentido pra ele naquele momento.

" So I thread the needle in my hands
Sowing my debt to the hoursands "

Sentia-se exatamente assim, pagando seus débitos com as areias do tempo. Quantas oportunidades teve de procurá-la, um telefonema, um e-mail, quantas vezes teve a oportunidade de fazer uma loucura pra mostrar pra ela que a amava e sonhava com ela constantemente, mas não... Acovardou-se, e só teve coragem de externar seus sentimentos e fazer todas as loucuras possíveis quando já era muito tarde, quando estas loucuras já não mostravam mais o amor que sentia, mas sim, todo o desequilibro que o acometeu.

Sabia que nada pior para um homem do que viver a dor do arrependimento, saber que o único culpado pela sua infelicidade era ele mesmo, jamais se perdoaria por isso. Saiu do banho e fez algo que se tornaria rotina daquele momento em diante, pegou uma pedra de gelo, um copo de whisky, seu maço de cigarros, fechou a janela do quarto, apagou a luz, colocou uma música num volume razoavelmente alto e deixou ao seu lado a caixa de calmantes para quando o álcool já não mais pudesse consolá-lo; E ali ficou, acompanhado de sua dor.

*Meses Depois*

7:00 AM, sábado, um horário atípico para estar acordado, a vida de Carlos mudara completamente em alguns meses, fora promovido no trabalho, mais responsabilidades e uma remuneração interessante, algumas mulheres passaram pela sua vida, era visto como um homem sério e respeitável por elas e por aqueles que o cercavam, estava em "franca expansão, se tornando um homem bom e honrado" segundo um grande amigo numa homenagem prestada a ele e alguns outros no grupo em que faziam parte. Tinha seu tempo tomado por constantes viagens e reuniões com pessoas importantes, tinha tudo pra ser um homem feliz e realizado, e o era aos olhos dos mais próximos, despertava a inveja de alguns e admiração de outros.

Mas o que aquelas pessoas não imaginavam é que tudo aquilo não era capaz de diminuir a dor e a desilusão que faziam parte do dia a dia de Carlos, não tinha um dia sequer que ele não lembrasse de Ângela, via suas fotos, e era assombrado pelos fantasmas do seu passado, fantasmas criados e libertos única e exclusivamente por sua própria culpa. Mantinha a mesma rotina, mas com doses cada vez maiores de álcool e calmantes, alias só dormia sob efeito dos mesmos, vivia uma mentira, enganava todos a sua volta fingindo ser feliz e realizado na esperança de talvez se convencer disso, mas no fundo tinha perdido tudo que o motivava a viver, e estava ali, dia após dia num teatro macabro que a vida lhe impôs, esperando quem sabe por um e-mail ou telefonema de Ângela para reacender a chama da vida que cada vez mais se apagava em seu peito.

Mas ali estava, em meio a manhã fria que se apresentava, sentado em frente ao computador, Carlos bebia o que restava do seu whisky, ao som de uma música melancólica que mais parecia um diálogo com sua consciência.

"Would you look at me now?
Can you tell me I´m a man
With these scars on my wrists
To prove I´ll try again...
Try to die again... Try to live through this night...
Try to die... again..."

Tinha consciência de tudo, do quanto sua vida havia mudado, do quanto deveria ser feliz, e principalmente do quanto estava agindo de forma destruir tudo aquilo que havia conquistado... Estava prestes a dar a cartada final com o destino, não conseguia mais suportar tudo aquilo, já não dormia direito nem com ajuda dos calmantes, já não anestesiava sua dor nem sob efeito de doses cavalares de álcool, nada mais adiantava, estava enlouquecendo, sabia que era um caminho sem volta, pegou o embrulho preto que guardava no fundo do armário, Desde o momento que o guardou imaginou que um dia ele seria útil.

*Horas Depois*

Entardecia, quem passava pela rua estranhava aquele homem sentado na calçada, barba mal feita e feição triste, catatônico olhando para o nada, até o momento que criou coragem, esperou um condômino abrir o portão para entrar com o carro e entrou, cumprimentou o indivíduo demonstrando naturalidade e subiu, no alto de um escada longa e estreita apertou a campainha e ali estava, linda, mesmo com os cabelos rebeldes e a cara amassada de quem fora acordada naquele instante, se mostrava completamente espantada com a visita inesperada, ficou indecisa se permitiria ou não que Carlos entrasse em sua casa.

Ângela_ O que quer aqui? – Ângela via na sua frente uma pessoa completamente perturbada, com olheiras saltando aos olhos, barba mal feita, e uma feição completamente diferente do que já havia visto em Carlos e isso começou a deixá-la preocupada.

Carlos_ Conversar; Preciso que você me deixe ser feliz novamente, em todo esse tempo jamais deixei de pensar em você, vivo assombrado pelos fantasmas que eu sei, eu mesmo criei, mas de qualquer forma só você pode me libertar deles, por favor querida, me deixe torna-la a mulher mais feliz do mundo.

Ângela_ Pelo amor... De novo tudo isso, Carlos por favor, não me faça repetir tudo de novo, você já teve todas as chances que pôde, infelizmente acordou tarde demais, eu queria muito ainda ser aquela que amava você para quem sabe ser a mulher que você procura, mas os tempos são outros, por favor, vá embora.

Carlos_ Não faça isso, você não faz idéia do quanto esses dias estão sendo difíceis pra mim, ter uma vida que todos julgam quase perfeita e ter que agir como tal mas no fundo ser um maldito infeliz remoendo o passado, você não sabe...

* Foi abruptamente interrompido por Ângela que bradou em alto tom de voz *

Ângela_ Você acha mesmo que eu não sei o que é isso? Já se esqueceu de tudo que passei por SUA culpa? Desculpe, mas você parece não se lembrar, sinto muito não ser a mulher que você gostaria que eu fosse, mas não se esqueça que por muito tempo você não foi o homem que eu gostaria que você fosse, gostaria muito que nós dois tivéssemos tido o “time” certo, mas não foi assim ok, então chega, CHEGA, entendeu? Não agüento mais tudo isso, que hoje seja a última vez que fazemos isso.

Carlos_ E será a última vez...

Abrindo o embrulho preto sacou de um revolver, apontou para Ângela e disse:

Carlos_ Desculpe, vim disposto a acabar com tudo isso, de uma forma ou de outra, não agüento mais, eu sei da dor que lhe causei, eu sei que hoje ela é toda minha... mas eu sei que não tive um só dia em que não me lembrei de você com pesar, e que frequentemente acordo abraçando o travesseiro e me desiludo ao perceber não ser você, que tentei tudo, absolutamente tudo pra te esquecer e a cada dia aumenta minha dor, eu te amei, sempre te amei, e não fui capaz de mostrar isso, eu errei muito com você, e talvez eu mereça cada segundo dessa dor, mas sou fraco e de uma forma ou de outra isso vai acabar, hoje...

Carlos parecia completamente transtornado, suas mãos tremiam, chorava enquanto falava e demonstrava estar completamente fora de si.

Ângela_ Calma, não faça isso... isso é loucura.

Carlos_ Sim, vivo uma loucura há tempos, e só quero me ver livre dela. Sinto muito que acabe assim, eu teria te dado o mundo se você permitisse, não culpo você, sei que em tudo isso só existe um único culpado, e esse sou eu, mas poderia ter sido tudo diferente, me desculpe.

Carlos engatilhou a arma, Ângela fechou os olhos pressentindo o pior, e então:

_NÃO – O grito foi seguito pelo barulho surdo do disparo, o som seco do corpo caindo no chão, a vizinha derrubou o copo de café que bebia no susto e correu pra ver o que acontecia e ao abrir a porta chocou-se com uma cena que ela sem dúvida jamais esquecerá. Um corpo caído no chão, um ferimento na cabeça que sangrava muito rapidamente e no canto da sala estava Ângela sentada no chão, abraçada em seus joelhos chorando, catatônica desacreditando aquilo que via.

E assim se encerra, aquilo que outrora seria um grande romance apaixonado, resumido a um capítulo dramático no livro da vida...

No bolso da jaqueta de Carlos, como uma memória póstuma havia uma carta endereçada a Ângela com os seguintes dizeres:

Ângela, diante de tudo isso só me resta dizer uma coisa: Desculpe. Abaixo uma singela lembrança que deixo em minha memória.

Os versos que te dou

Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...

E hei de faze-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escuta-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revive-los nas
lembranças que a vida não desfez...
E ao lê-los...com saudade em tua dor...

hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...
Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.

FIM

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Melancolia


Metal contra as Nuvens - Legião Urbana

Não me entrego sem lutar
Tenho ainda coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então

Tudo passa, tudo passará

E nossa estória não estará
pelo avesso Assim, sem final feliz
Teremos coisas bonitas para contar

E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe para trás -Apenas começamos
O mundo começa agora -Apenas começamos
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Esse conto tem algumas peculiaridades e inspirações mas não vou tratar disso agora, mas ainda retorno a isso no momento devido.
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Melancolia


13h15min Carlos ainda não levantara, isso vindo dele era algo raro. Mesmo já tendo acordado há um bom tempo, não teve forças pra levantar, afinal, qual seria a diferença? Tomou mais um trago de seu whisky, acendeu um cigarro e ali deitado colocou-se a pensar... descobriu que findavam os dias de primavera da sua adolescência, findava o verão das suas alegrias e agora ali estava em pleno outono onde não se vêem sorrisos em sua alma. Harmonia só encontra com a chuva que displicentemente e triste cai ao sabor do vento como se proferisse loucura, o grito de quem já perdeu muito desde que a este mundo veio…

Deitado em sua cama que já o vira em melhores dias, não haviam lágrimas suficientes que traduzissem o turbilhão de sentimentos que o atormentava, ironia saber que, semanas atrás, eras o brilho lancinante da alegria, que caminhavas seguro de ti, confortado pelo sonho de ser amado, de enriquecer a vida de outros com a tua…

Agora, nada mais do que um farrapo, envolto em febre e desgraça, percorre o caminho de sonhos caídos, deixando os pesadelos de uma vida sem graça. Lembrando-se de quão doce era o teu sorriso, o quanto o aquecia saber que as brincadeiras próprias da infância apenas enriqueciam a tua curiosidade. Aquele dia em que em casa disse que estava contente pela presença dele e ele bobo tal qual um jovem garoto mal pode balbuciar quaisquer palavras.

Ah! Aquele brilho nos olhos e o lacrimejar de desculpas após teres dito alguma coisa com a qual ele não concordava… Peripécias de uma infância rica em sensações, experiências que ajudavam a moldar o teu espírito, a engrandecer a tua mente.Certo é que sabias o quanto reprovava a vida por ser tão injusta e insensível com ambos, mas as palavras por vezes não surtiam efeito e as raras vezes em que batiam faziam doer a alma.

Sabia que os fins de semana eram os mais cruéis, pois não havia nada nem ninguém que pudesse distraí-lo, era apenas ele e a saudade, e nessas horas ficava frágil, não conseguia combater sua tristeza. Decidiu escrever um e-mail a Carla, uma forma de a ter por perto, de alguma forma que só ele entendia.

Ângela,

Escrevo pra você ler quando chegar. Antes de tudo, quero que saibas que guardo em mim o amor que lhe está destinado. Digo isso porque acredito que o amor seja atemporal. Escrevo num passado-momento, que era, ou é, meu instante-agora, e um dia será nosso futuro-presente. Com o tempo, aprendi um pouco com os relacionamentos que não perduraram, e por isso, faço-lhe algumas recomendações:

Não tenha pressa em me encontrar. Chegue no momento exato. Ou erre de momento e chegue na hora que não estava programada. Não seja perfeita pra mim. Não espere perfeição de mim. Mas aprenda a conviver com as nossas diferenças. Respeite minhas diferenças. Não tenha medo dos clichês. Eles são parte essencial de um bom relacionamento. Um pequeno parêntese: Mesmo que você já tenha vivido momentos parecidos com outros, cada momento é único. Cada pessoa é única. E um dia você verá que o tempo não volta.

Portanto, amor, libere-se. Não tenha medo de falar de seus medos, de suas dúvidas, de seus anseios. Não jogue seu futuro em minhas mãos. Não aposte todas suas fichas em mim! Porque de todos os jogos que participei, os amorosos são os que mais deixam cicatrizes. Aposte em você. Acredite em você. Isso refletirá em mim e jogaremos de igual pra igual. Quando você chegar, chegue sem fazer barulho. Chegue serenamente. Na verdade, chegue como quiser. Chegue feito banda de heavy metal. Faça meu coração pulsar ao seu ritmo frenético. Quando chegar, não seja a pessoa que quero. Seja você. Porque é de você que eu preciso.

Não queira ter os mesmo gostos que eu. Chegue sem conhecer minha banda, meu cantor, meu livro ou poema preferido. Chegue tirando sarro do meu gosto musical. Chegue dizendo que o Mc Creu é o maior poeta de todos os tempos, pois com apenas uma palavra disse tanta coisa... E nós, às vezes, escrevemos tanto, falamos tanto que nossa prolixidade acaba por não representar nada. Não dizer nada.

Por fim, espero que atenda minhas recomendações, que atenda meus pedidos. Ou seja autêntica e vire minha vida de pernas pro ar, e faça apenas aquilo que tiver vontade. Aquilo que lhe der na telha. Por enquanto, guardo comigo a sua lembrança e o meu amor. Pra quando você chegar.

Após terminar de escrever sentiu-se orgulhoso, enviou o e-mail para Ângela e voltou a cama imaginando todas as reações que ela podia ter ao ler seu e-mail, e entre um trago e outro adormeceu, lhe agradava a idéia de dormir, pois assim passaria com mais facilidade pelos longos dois dias mais esperados por todas as demais pessoas mas que naquela situações haviam se tornado provações.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

um break pra conseguir terminar o próximo...

" Solidão "

Um frio enorme esta minha alma corta,
e eu me encolho em mim mesmo: - a solidão
anda lá fora, e o vento à minha porta
passa arrastando as folhas pelo chão

...Nesta noite de inverno fria e morta,
em meio ao neblinar da cerração,
o silêncio, que o espírito conforta,
exaspera a minha alma de aflição...

As horas vão passando em abandono,
e entre os frios lençóis onde me deito
em vão tento conciliar o sono

A cama é fria... O quarto úmido e triste...-
Há uma noite de inverno no meu peito,
desde o instante cruel em que partiste...

terça-feira, 31 de março de 2009

Em Busca De... Final

Mais uma Canção
Los Hermanos

Eu me entrego
Eu não nego
Eu errei, mas sou capaz
de fazer sua vida melhor

Tô voltando
Não sei quando
Pra roubar teu coração
Vou chegar no final de mais uma canção

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Em Busca De... Final

Acordou tarde, já era próximo ao meio dia, se espreguiçou, acendeu um cigarro e se colocou a pensar, logo mais iria voltar a sua vida normal, mas sabia que antes disso tinha que passar por uma prova de fogo, a conversa com Carla, sabia que aquilo de alguma forma seria um divisor de águas pra toda aquela situação, a garota já havia mostrado que tinha entendido toda aquela situação, talvez até mesmo melhor que Carlos e a sinceridade da garota podia lhe dar as forças que precisava para continuar lutando ou afoga-lo de vez obrigando-o a desistir. Mais uma vez se viu refém da situação, mas iria enfrentar.

Tomou um banho e saiu em direção à área de convivência da pousada, tinha certeza que a garota estaria ali esperando por ele. Qual não foi seu espanto ao chegar e ver que não havia ninguém ali foi até a proprietária da pousada e ao perguntar pela garota ouviu o mais improvável, ela havia pego o carro pela manhã bem cedo com uma mala e ido embora. Sentiu-se traído, como a garota podia abandoná-lo bem nessa hora, no fechamento de tudo, precisava dela, aquela garota parecia ser a única que realmente entendia Ângela e nos conselhos dela depositou toda sua confiança de reconquistá-la, era o fim... Já abatido fez a única coisa que lhe restava, pagou a pousada, pegou suas coisas e chamou um táxi e foi rumo à rodoviária, seu ônibus ainda demoraria a sair, mas de qualquer forma perdera a vontade de fazer qualquer outra coisa.

Chegou à rodoviária, pediu uma vitamina e sentou-se, estava visivelmente abatido, sentia raiva da mulher... Primeiro ela o ajudou e agora o abandonou... Debruçado sobre o balcão do bar fumava seu cigarro quando sentiu um toque em seu ombro.

Carla_ O moço, pensou que ia se livrar de mim assim tão fácil?

Carlos se espantou, sentiu muita raiva da garota, mas por outro lado estava feliz em vê-la.

Carlos_ Como soube que eu estava aqui? Meu ônibus sai daqui a quase 4 horas.

Carla_ Você é uma pessoa previsível... Conheço-te há menos de dois dias e posso dizer exatamente o que pensou e está pensando de mim nesse momento... Mas te digo, não deixei a pousada, apenas pedi pra que a dona dissesse isso a você, não o encontrei intencionalmente.

Carlos_ Como assim? Você é maluca?

Carla_ Não, mas fiz isso só pra deixar claro o que eu queria te falar. Aposto que você acordou confiante que me encontraria sentada num banco da pousada te esperando pra resolver o problema pra você correto? E quando não me viu se sentiu abandonado e ficou sentindo pena de você... Estou Mentindo?

Carlos_ Bem... Não.

Carla_ Pois é, fiz isso exatamente pra te mostrar como você é previsível e é exatamente isso que você está fazendo consigo.

Carlos_ Como assim?

Carla_ Você ficou com medo da situação como você mesmo me disse, e o que você fez? Isolou-se e esperou algo ou alguém aparecer e resolver tudo pra você... E quando viu que Ângela não estava lá como seu orgulho te dizia que estava Você fez o mesmo que fez hoje, ficou com medo e fugiu pra cá... Consegue entender agora?

Carlos estava chocado... Como aquela garota que o conhecia há dois dias podia ter ido tão fundo no assunto? Ela tinha total razão... E só agora Carlos havia percebido tudo por esta ótica...

Carlos_
você está certa... E mais uma vez eu não sei o que fazer...

Carla_ Você não tem o que fazer... Você já a perdeu.

Carlos_ NÃO DIGA ISSO. Ela é tudo que mais quero...

Carla_ Entenda, você a perdeu, só existe uma chance pra você.

Depois de um silêncio que durou uma eternidade a garota diz:

Carla_ Reconquistá-la...

Carlos_
Mas... Não acredito que não exista mais sentimento entre nós...

Carla_ Cara, alguém já te disse que você é tão teimoso quanto uma porta?

Carlos_
mas digo isso por bem...

Carla_ De boas intenções o inferno está cheio... Arregace as mangas e conquiste-a novamente, você é um cara que pode fazer qualquer mulher se sentir a mulher mais feliz do mundo só precisa deixar de ser teimoso não deixar que o medo te domine novamente. Pega esse papel, aqui tem meu telefone e meu e-mail, só me procure pra dizer que você conseguiu, vou torcer por você.

Carla_ Eu não sei como te agradecer, você me ajudou muito essas últimos dias.

Carlos_ Não retribua a mim, retribua a si mesmo. Deixe seu orgulho e seu medo de lado, se permita viver e boa sorte com sua Ângela.

Carla_ Agora vou indo, você tem muito que pensar. Boa viagem e obrigado, aprendi muito com você neste fim de semana, não mate esse homem bom que vive em você, liberte-o.

Carlos_ Eu é quem agradeço.

Depois que a garota saiu, ficou ali por muito tempo, e finalmente entendia Ângela, mas não estava disposto a desistir, continuava sozinho, sem ninguém que o ajudasse, mas sentia uma estranha esperança em seu peito, pela primeira vez pareceu achar uma forma de ter de novo a Ângela em seus braços.

Embarcou no ônibus e dormiu num sono estranhamente tranqüilo...

domingo, 29 de março de 2009

Em Busca de... PT 2

Sabendo Que Posso Morrer
Matanza


Não deveria fazer o que eu faço

Passar o que eu passo, beber o que Eu bebo
Não deveria dizer o que eu digo
Vivendo em perigo, o que é que eu Recebo?

Coisas que eu faço sabendo que Eu posso morrer
Coisas que eu faço na hora em que Eu penso em você

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Em Busca de... PT 2

13h15min Estava saindo, depois de acordar e tomar um banho rápido, quando ao passar pela área de convivência da pousada que dava acesso à saída viu Carla sentada em um dos bancos. Cumprimentou a garota e fez menção de sair.

Carla_ Ei... aonde vai? Não vai me convidar pra te acompanhar hoje? Ou prefere ir sozinho?

Carlos_ Bem, eu não queria incomodá-la, mas se tiver desocupada vamos, quero comer algo antes de qualquer coisa.

Saíram, comeram num lugar simples, mas com uma comida muito boa. De lá Carlos disse que queria ir pra uma praia, pois logo mais seu time do coração ia jogar, Carlos via cada vez mais o quanto aquele lugar era belo, e a cada nova descoberta sobre o local imaginava um dia levar Ângela pra lá e como seriam melhores com ela ali, como aqueles lugares teriam cores e sentidos diferentes.

Carla_ você ainda está mal do que me disse ontem não é?

Carlos_ Bem se fosse algo simples de se lidar eu não teria vindo até aqui pra tentar...

E um silêncio se fez entre os dois, só depois que falou, Carlos percebeu que fora grosseiro com a garota, ficou sem graça afinal a garota parece entendê-lo, ou pelo menos tentava.

Carlos_ Desculpe...

Carla_ Não tem problema.

Carla_ Você é um cara fantástico sabia? Do tipo que vai fazer qualquer mulher muito feliz, andei pensando em tudo o que me disse ontem, se importa se eu fizer alguns comentários?

Por algum motivo Carlos sabia que a garota ia dizer coisas que ele não gostaria de ouvir, mas decidiu aceitar.

Carlos_ Vá em frente.

Carla_ Eu não conheço essa garota por quem você está apaixonado, mas sou mulher, algumas coisas só nós mulheres sentimos, e pra mim uma coisa é clara, de alguma forma ela ainda gosta de você, afinal se fosse diferente ela não teria essa preocupação toda que você me contou, mas por outro lado imagine que nós mulheres somos como rosas, se você poda uma rosa das mais belas pra deixar dentro de um copo na sua casa por mais que você olhe pra ela a beleza dela não é a mesma longe das demais, assim somos nós mulheres quando amamos, se todos os sentidos não estiverem numa mesma vibração à coisa não é a mesma.

Carlos ouvia atentamente.

Carla_ Longe de mim querer tirar suas esperanças, mas isso de longe me parece uma forma eufêmica dela de dizer que nada mais vai acontecer entre vocês e você já fez todas as loucuras que podia ser feitas pra mostrar pra ela que gosta dela de verdade mas você esqueceu o principal... Esqueceu de você

Carlos_ Como assim? – Neste momento Carlos tinha os olhos úmidos, estas últimas coisas que a garota dissera bateram forte sem eu peito.

Carla_ Já se colocou no lugar da guria? Imagine-se finalmente tendo em seus braços alguém que você lutou pra ter depois de muitos anos, e quando isso acontecesse aquela chama não arde... E enquanto você tenta procurar por aquela chama você vê que a pessoa esta completamente transtornada... Você teria tranqüilidade?

Carla_ Me da licença um minuto que tem umas amigas ali do lado, já volto.

Ela estava certa, todos estavam certos, mais uma vez percebeu o óbvio, ele era o errado. Carlos aproveitou que a garota havia encontrado algumas pessoas que ela conhecia e havia se afastado e começo a andar em direção a beira do mar, encosto-se numa mureta e ficou ali digerindo o que a garota havia dito. Após alguns minutos ali começou a chover, uma chuva forte, mas mesmo assim não fez menção em sair, continuou ali a pensar e lembrou-se de uma música que lhe era tão especial.

_ Rain down, rain down
Come on rain down on me
From a great high
From a great high...high...

Carla_ EI! VAMOS VOLTAR PRA LÁ, NÃO FIQUE NA CHUVA.

Carlos_ Pode ir está bom aqui.

Carla_ Mas você não entende mesmo não é? Então também vou ficar aqui...

Carlos começou a pensar, por que aquela guria se importava tanto com ele? Mal o conhecia, resolveu sair de lá para que a garota não se molhasse tanto.

Carlos_ Me responda uma coisa, porque se importa tanto comigo?

Carla_ Deixa eu te explicar uma coisa, eu até hoje na minha vida quis encontrar um cara que fizesse por mim todas essas coisas que você está fazendo por esta guria, então acho que se eu ajudar você com ela, o dia que o meu aparecer alguém vai me ajudar. Mas você precisa entender uma coisa, você tem duas maneiras de ser feliz: com ela ou sem ela, se escolher sem ela, vai ter que lutar contra seus sentimentos até que eles brotem por outra pessoa, mas se escolher ser feliz com ela precisa parar de agir como se o mundo fosse acabar amanhã, vocês homens são muito fracos pra lidar com sentimentos, você não percebeu que cada dia que passa está se obrigando a entrar em depressão? Mais do que já está? Acorde homem, se você a quer de volta mostre o que você tem de bom, aquilo que a conquistou da primeira vez, faça com que ela sinta falta disso e não faça sentir pena de você, se ela tiver pena de você ai sim vai ver que não é esse homem por quem ela se apaixonou. Acorde, você está se trancando num canto escuro e não vai ver quando a oportunidade passar diante de você. Eu venho tentando te dizer isso hoje o dia inteiro de maneiras mais sutis, desculpe pela grosseria, mas você precisa entender isso, pro bem de vocês dois.

Carlos desabara novamente. Como uma garota que não o conhecia, podia ler tão bem uma pessoa? Cada palavra dela o atingira como um cometa, ela tinha razão.

Carla_ Bom combinei com aquelas minhas amigas de ir num lugar bem bacana hoje a noite, vai te fazer bem, esteja pronto na pousada umas 21h30min que eu te levo.

Carlos_
Não sei se é uma boa idéia...

Carla_ MEU DEUS, VOCÊ NÂO ENTENDEU NADA DO QUE EU FALEI NÃO É MESMO? VOCÊ É TEIMOSO COMO UMA MULA. ESTÁ BEM, SE COLOQUE EM DEPRESSÃO, FUJA PRA LONGE E O MÁXIMO QUE VAI CONSEGUIR É PERDÊ-LA, PORQUE NÃO SE MATA LOGO. PASSAREI POR LÁ NA HORA MARCADA SE QUISER IR ÓTIMO, SE NÃO QUISER AZAR O SEU.

A garota saiu, estava nervosa, e Carlos estava espantado, a garota gritou com ele, aquilo foi inesperado, mas ela tinha razão, Carlos mais uma vez viu o quanto era fraco, como Ângela conseguiu suportar tudo aquilo...

21h30min Carlos estava pronto e sentado em um dos bancos na pousada, não tinha vontade de sair, mas precisava de novos ares. A garota entra e quando vê Carlos abre um sorriso.

Carla_ Eu sabia que não me decepcionaria.

Chegaram ao dito lugar, era uma praia afastada com algumas mesas na areia, havia muita gente ali, a música não agradava, reggae de longe não era seu estilo preferido, mas estava ali e não ia desistir. Assim que chegou cumprimentou as cinco garotas que já estavam lá, sentou-se e começou a conversar, reparou que freqüentemente Carla estava observando-o e aquilo de certa forma incomodava mas conforme o tempo foi passando e a bebida colaborou, passou a se enturmar entre o grupo, arriscava algumas piadas ria de outras, aqueles estavam sendo momentos agradáveis.

Carla_ Fico feliz que resolveu lutar está fazendo o certo... Amanhã antes de você ir embora gostaria de conversar com você.

Carlos acenou afirmativamente com a cabeça e continuou aproveitando o momento, não podia negar estava se divertindo, mais ao fim da noite já abatido pelo álcool consumido em dose cavalar estava conversando com uma das garotas amigas de Carla, e conforme a conversa foi avançando percebeu nela uma intenção além de conversar, começou a ser evasivo até o momento em que pediu licença e foi ate há alguns metros do mar e olhando as estrelas. Algumas coisas começavam a fazer sentido, precisava reconquistar sua Ângela e pra isso precisava ser o que estava sendo naquele momento, espontâneo. Talvez naquele momento sua viagem tivesse valido a pena, se sentiu esperançoso, mas ao mesmo tempo tinha medo dessa esperança se tornar uma nova decepção. Não importa, as estrelas eram testemunhas de que naquele momento a esperança retornara aquele pobre infeliz.

sábado, 28 de março de 2009

Em Busca de.... PT 1

Nas Linhas
5 Generais

Cada linha no Teu rosto
É desinteressante
Traçada pela ausência
De perigos ou eventos
Pois você sempre foi
Seguro e previsível
Até nas suas tentativas
De ser diferente...

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Em Busca de.... PT 1


15h00min já estava na rodoviária, saiu mais cedo do trabalho, tinha sorte de ter um chefe compreensivo, ele sabia que Carlos não estava numa fase boa e vinha sendo um tanto amigo nessa hora. Passagem na mão ia para um lugar que nunca tinha ido antes, Paraty – RJ, alguns minutos se passaram e lá estava ele, deixando a rodoviária, saindo em busca de algo que nem ele mesmo sabia... Qual o sentido daquilo? Queria mesmo era ir até Ângela, mas não podia. Decidiu que ia ter um fim de semana livre, tentar viver um fim de semana sem seus fantasmas... Aproveitar tudo que o destino lhe proporcionasse.

Dormiu a viagem toda, assim que desceu do ônibus procurou o guarda perguntando sobre onde podia encontrar uma pousada, de preferência próxima a praia, teve um endereço, entrou num taxi e rumou pra lá, foi olhando a cidade no caminho, era bela em seus detalhes, num estilo colonial, mas com um toque de modernidade, quando passou próximo ao mar, teve certeza de escolher um bom lugar. Aquilo era lindo.

Entrou na pousada, cuidou de toda a parte burocrática, subiu, deixou sua mala, precisava de um banho e já queria sair pra conhecer o lugar.

Tomou um banho, primeiro foi até a área de convivência da pousada, tinham algumas pessoas ali e esse seria um bom começo para escolher aonde ir. Sentou-se no banco, tinham algumas pessoas ali, puxou conversa e quando menos percebeu estava trocando cartão de visitas com um senhor e falando de trabalho. Desde que chegou reparou que havia uma moça sentada num banco mais afastado, estava desde que chegou ali, quieta, olhando pro nada e aquilo lhe despertou a curiosidade.

Depois que seus “novos amigos” saíram só havia ali ele e a tal pessoa, resolveu conversar com ela. Após alguns minutos descobriu que a garota e chamava Carla. A garota tinha lá seus 20 e poucos anos e estava sozinha ali, seus olhos azuis carregavam uma certa tristeza mas ainda era muito cedo pra saber do que se tratava, ficaram ali conversando por um bom tempo, a garota tinha um bom papo e aparentemente tinha achado o mesmo de Carlos, convidou-a para comer alguma coisa e conhecer um pouco da cidade, afinal ela já está ali há alguns dias e poderia mostrar o básico que ele precisaria conhecer pra se virar naquele fim de semana.

Foram a um restaurante e comeram frutos do mar e sempre conversando até que ela disse o que Carlos durante todo o tempo tentou desviar do foco da conversa.

Carla_ Você não parece o tipo de pessoa que vem pra um lugar desse sozinho passar um fim de semana pra ver a natureza. Porque veio?

Carlos estava desarmado, porque será que Deus só coloca em seu caminho mulheres maduras e com uma percepção e sensibilidade maior que a dele? Talvez porque ele fosse débil nesses quesitos... ficou em silêncio, a garota insistiu na pergunta. Bem... – Pensou Carlos – Não tenho nada a perder, me prometi viver intensamente esta viagem, eu nunca mais verei a garota, se ela quer saber o porquê, não tenho porque esconder.

Carlos_ Digamos que estou em retiro espiritual...

Carla_ Como assim?

Carlos_ É uma longa história...

Carla_ Ótimo, não estou com pressa nem sono e aqui tem um lugar ótimo pra longas histórias, vamos.

Descobriu que a garota estava de carro na pousada, chegaram lá, pegaram o carro e foram em direção a Trindade, um lugar que segundo ela era perfeito pra longas histórias.

Ao chegar Carlos entendeu o porquê a garota disse aquilo. Estava em frente a uma praia maravilhosa, mas ainda não era ali que ficariam, entraram por uma trilha na mata e andaram alguns minutos até chegar numa cachoeira, sentia frio. Era grande, o lugar exalava paz. Sentiu-se tranqüilo, viu que ao redor da cachoeira havia algumas outras pessoas, mas elas não pareciam se importar umas com as outras, se sentaram numa pedra próxima a queda dágua quando a garota disse:

Carla_ Então vamos lá... Tem algum lugar melhor no mundo pra longas histórias do que este?

E Não havia... Carlos então começou a contar sua história, desde o passado, até os acontecimentos do dia anterior, não sabe quanto tempo levou pra fazer isso mas reparou que a garota ouvia atenta com os olhos fixos nele, reparou também que na parte em que Carlos não conseguiu segurar a calma e começou a chorar a garota também estava com os olhos úmidos... quando finalmente terminou a história, acendeu um cigarro.

Carla_ Mas mesmo você fazendo tudo isso a garota não te deu uma chance? Ai essas mulheres viu...

Carlos ficara extremamente ofendido com o comentário da garota... quem ela pensa que é pra julgar sua Ângela... Mas resolveu não falar nada...

Carla_ Sabe nós mulheres somos complicadas... Eu estou aqui por um motivo parecido com o seu, e pensando melhor acho que entendo essa tal de Ângela, só que no meu caso eu queria muito que ele fizesse essas coisas que você ta fazendo por ela, é tudo que eu precisaria pra ver que ele me ama de verdade... Olho, eu não sei como você é, mas eu tenho algo aqui que vai te fazer bem.

Carlos começa a reparar e vê que a garota estava enrolando um cigarro de maconha, ficou espantado, pois definitivamente aquela garota com cara de menina inocente não parecia comungar dessas coisas.

Carla_ Se importa se eu acender?

Carlos_ Não, vá em frente.

Afinal a maior parte dos que estavam próximos a eles faziam o mesmo...

Carla_ Quer um trago? Nessas horas acaba ajudando um pouco, a tirar essas abobrinhas da cabeça...

Carlo pegou o cigarro, ficou olhando pra ele, já havia feito aquilo antes, no passado, um passado negro que não queria de volta... Mas sabia também que de alguma forma aquilo o ajudaria a esquecer Ângela, mesmo que por alguns intantes. Ameaçou levá-lo a boca e lembrou-se

_Ângela Carlos, Cuide-se... Nem que for por mim.

Como num filme lembrou-se da cena, derrubou o cigarro no chão... Pegou-o e devolveu a garota.

Carlos_
Obrigado, Carla vamos embora? Estou cansado da viagem, amanhã conversamos mais.

Carla_ ok.

Voltaram pra pousada, despediu-se da garota mas não foi dormir, foi andar na praia que havia ali próximo, e andou por um bom tempo até que se sentou na areia encostado num barco que havia ali, e ficou pensando na vida, aquele lugar era perfeito, lindo... Mas sem Ângela... Continuava cinza...

07h20min Acordou, suas costas doem, percebeu que dormiu ali, na areia... Voltou pra pousada, tomou um banho e deitou-se pra tentar descansar um pouco.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Idiossincrasia Pt 2

Veja Bem Meu Bem
Los Hermanos

Enquanto isso, navegando vou sem paz.
Sem ter um porto, quase morto, sem um cais.

E eu nunca vou te esquecer amor,
Mas a solidão deixa o coração neste leva e traz.

Veja bem além destes fatos vis.
Saiba, traições são bem mais sutis.
Se eu te troquei não foi por maldade.
Amor, veja bem, arranjei alguém
chamado saudade.

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Idiossincrasia Pt 2

20h00min Carlos saiu da farmácia com quatro caixas do mesmo remédio, sabia que algo despertara seu instinto destrutivo, não estava disposto a fazer nada com eles, mas por algum motivo que nem mesmo ele sabia explicar, estava fazendo aquilo... De qualquer forma sabia que aquele seria um dia decisivo, disse a Ângela que iria até ela, precisava ouvir sua voz, não tinha esperanças que isso fosse mudar algo entre eles, mas iria fazer, não sabia o que pensar...

Chegou ao lugar marcado, escolhera uma praça, assim poderiam ter certa privacidade naquele momento, Ângela não estava lá... Não importa, iria esperar ela ia aparecer, tinha certeza disso, acendeu um cigarro e ficou ali.

20h25min Ângela olhava pela janela do carro, ele não iria desistir, viu Carlos chegar e desde que chegou já acendia seu terceiro cigarro, ia ter que enfrentar aquilo, criou coragem e desceu, assim que apontou na Praça Carlos a viu, percebeu que ele interrompeu os passos inquietos e ficou olhando fixamente pra ela, conforme se aproximava percebeu que os olhos dele estavam úmidos.

_Carlos_ Eu sabia que você viria. – Nos olhos de Carlos era nítida uma profunda tristeza.

_Ângela_ Você não entende mesmo não é? Depois de tudo eu só pedi uma coisa a você que foi tempo, e nem isso você me deu, como quer que eu confie em você novamente.

_Carlos_ Eu sei disso minha flor, mas eu não consigo... Tenho lutado bravamente dia a dia pra buscar forças pra viver, mas eu não consigo, Por Deus, eu tenho tentado...

_Ângela_ Eu entendo... Mas não há nada que eu possa fazer, isso não é fácil pra mim também, por quanto tempo eu não estive como você Carlos, me diga... Eu já disse, quero poder olhar nos seus olhos e dizer que te quero, mas quero que isso seja sincero... Não quero que se iluda...

_Carlos Grita_ Por Deus Ângela, Me iluda... Engane-me, faça qualquer coisa, mas tire essa dor do meu peito, eu não agüento mais viver.

Ângela se assustara com a reação de Carlos, temia uma reação violenta, ele parecia fora de si, mas no fundo sabia que não podia fazer nada naquele momento, via aquele que fora o homem da sua vida chorando ao soluçar, mas o que ele lhe pedia era mais do que ela podia oferecer.

_Ângela_ Desculpe Carlos, eu queria muito poder fazer algo mais do que estou fazendo, mas no momento é só o que tenho a oferecer, eu estou tentando Carlos, confie em mim, não pense que é mais fácil pra mim do que está sendo pra você. Mas... Mas... NÃO ME PRESSIONE.

Ângela não suportara, soltou um grito e começou a chorar... Reparou que Carlos se chocara com tal atitude... Estava catatônico, seu rosto marcado pelas noites sem dormir refletiam o pânico que devia se passar em seu peito, reparou também que ele trazia no peito, um cordão com uma chave amarrada no peito, sabia o que significava aquilo, mas fingiu não perceber.

Ficaram alguns minutos ali em silêncio, encarando um ao outro até que Carlos falou:

_Carlos_ eu só quero que você saiba que te amo!

Ângela baqueara, ele nunca tinha dito isso a ela antes, e como ela sonhou em ouvir isso, conhecia Carlos, sabia que ele condenava tanto quanto ela a banalização do amar, ela sabia que ele realmente era sincero, nesta hora explodiu em raiva, pois não sabia como retribuir aquilo.

_Ângela_ Não faça isso com você, Carlos... Eu sonhei anos da minha vida com você, mas não me peça isso agora, não até que eu tenha certeza que quero tentar ao menos... Olhe pra você, está com uma cara péssima, está mais magro cheirando a álcool, este não foi o Carlos por que me apaixonei.

Carlos não tinha o que responder, sabia que ela estava certa, estava se destruindo, se consumindo em chamas de dentro pra fora, há dias não fazia a barba, há dias não comia nem dormia direito e só conseguia dormir depois de uma boa dose de álcool, mas isso era o melhor que conseguia fazer naquele momento... Mas sentiu vergonha... Ela tinha razão e ele sabia disso.

_Ângela_ bom Carlos acho melhor irmos embora, isso não faz bem a nenhuma de nós, lembre-se, só estou te pedindo paciência, eu sei que é difícil, mas você vai ter que conseguir.

_Carlos_ Se for pra ter você de volta eu faço qualquer coisa...

_Ângela_ Então até mais.

Ângela se afastou, entrou no carro e chorou, queria poder fazer mais naquela situação, mas não conseguia, se sentia frágil, a vida fora injusta com ela.

Carlos ficou ali por mais dois ou três cigarros até ter forças pra sair... Estava arrasado mais uma vez, sabia que não ia dormir essa noite, pegou o carro e voltou pra casa, ao chegar lá arrumou uma mala, estava decidido, no próximo dia ia viajar sair do trabalho e pegar a estrada, sem rumo... Sem destino... Sem vontade de voltar.

_Carlos_ O mar... Preciso dele neste momento...

quarta-feira, 25 de março de 2009

Idiossincrasias - Primeira Parte....

Everything I Love
Alan Jackson

Coffee keeps me up and I can't sleep

And when I drink too much then I can't eat
Losing you has led me to believe
Everything I love is killin' me

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Idiossincrasias

06h30min ele acorda, assustado, olha ao redor e percebe que tudo não passou de um pesadelo, um dos tantos que vinha tendo ultimamente... Na televisão que esquecera ligada um programa religioso qualquer, estendeu o braço ao criado-mudo e acendeu um cigarro. Ficou ali alguns minutos ouvindo o sermão religioso enquanto fumava seu cigarro, um paradoxo moral pensou Carlos, porém de alguma maneira aquilo parecia interessante, não que ele concordasse com o pastor, mas na situação em que se encontrava as palavras do pastor lhe traziam certo conforto... Afinal é disso que as religiões vivem, vender sonhos aos desiludidos e naquele momento Carlos era um cliente em potencial.

Levantou, desligou o despertador do celular e foi tomar um banho, queria aproveitar aquele momento, há dias ele sacrificava muito desse momento em função dos constantes atrasos. Tomou seu banho, fez a barba e se vestiu. Quando estava saindo de casa viu seu reflexo no espelho e reparou, estava com aquela camisa azul, a mesma que deixara de usar a alguns meses, pois ela havia ficado muito apertada... Estava tão distraído que a pegara do cabide sem perceber, mas o curioso foi perceber que ela não mais estava incomodando, tinha perdido peso. Após o espanto inicial tratou com normalidade afinal, nada mais esperado de alguém que há dias não come nada além de 1 ou 2 sanduíches.

08h30min sentou-se na sua mesa e ligou seu computador, fora pontual pela primeira vez em muitos dias, precisava se livrar de algumas tarefas que deixara acumular e assim o fez por algum tempo até que foi novamente tomado pela melancolia e quando percebeu estava revirando fotos antigas no computador, pensando o que estaria fazendo Ângela naquele momento, cogitou ligar pra ela, mas no meio da discagem achou melhor não... Ela pedira um tempo para se encontrar e ele devia respeitar isso.

Só Deus sabia o quanto ele estava sofrendo, a agonia de ter sempre aquela dor no peito, perdera a conta de quantas vezes se escondeu no banheiro pra chorar, o quanto rezava pra que seu celular tocasse e fosse Ângela dizendo que decidira por dar uma chance a eles, sabia que no fundo isso era o melhor pra ambos, afinal depois de tantos desencontros, só assim poderiam ter certeza se foram feitos um pro outro ou não, eram adultos, não tinham nada a perder só a ganhar, via que Ângela estava se iludindo, traindo a si mesma sem saber, se fechando em uma concha pra não se machucar e tinha aquilo pra si como verdade travestida de que não estava segura de seus sentimentos, ou que talvez eles nem estivessem mais lá... E sabia disso, pois fora exatamente o que Carlos fizera durante muito tempo, enquanto se iludia tinha plena convicção do que sentia e só percebeu o quanto se iludia no dia em que viu que estava perdendo Ângela. Mas de qualquer forma, prometera respeitar o pedido de Ângela e iria cumprir, ela já sofrera muito por ele e Carlos viu o quanto ela é mais forte que ele por ter suportado muito mais do que ele estava sendo capaz.

Abriu a gaveta pra pegar seu cigarro e viu o bloco de receitas médicas em branco que seu amigo lhe arrumara, teve uma idéia, mas fez questão de abandoná-la rapidamente, pode ser uma saída mais fácil, mas no fundo é apenas mais uma fuga... Já fugira demais da vida, era hora de enfrentá-la. Desceu pra fumar, sentia-se melhor naquele dia, porem havia percebido que todo aquele desespero que outrora lhe dominava estava sendo substituído por uma profunda tristeza e desânimo, não tinha vontade de acordar pra mais um dia, afinal ia ser a mesma coisa de todos os outros, enquanto não resolvesse essa situação seus dias seriam sempre assim... Cinzas...

Precisava de distração, de atenção e enquanto não pudesse contar com os abraços de Ângela começou a buscar na agenda do celular alguma companhia pra beber e acabou encontrando Rodrigo, combinaram de se encontrar e no fim do dia Carlos guarda suas coisas, abre a gaveta pega seus pertences e meio que inconscientemente arranca a primeira folha do bloco de receitas, dobra e o põe no bolso da camisa... Pega seu celular digita um SMS, pronto estava feito.

11h50min Ângela pega sua bolsa e se prepara para almoçar, na verdade não tinha fome mas iria aproveitar pra caminhar um pouco, estava chateada, estava confusa, precisava se encontrar, aproveitar que finalmente Carlos parecia tÊ-la deixado em paz, ele não a entende, age como se fosse simples passar pelo que ela estava passando, nada mais duro do que negar a si mesma, olhar pra dentro de si e ver que nada mais é como fora no passado, mesmo quando se quer que seja diferente... Ele estava fazendo seu melhor, mas de nada adianta enquanto não conseguir reencontrar os velhos sonhos do passado.

Um suco de laranja e uma volta pela praça é estranho como a vida nos prega peças, parece que foi ontem, a noite fria, aquela convulsão de sentimentos, os olhos evasivos e inquietos de Carlos, fora obrigada a cravar as unhas em sua carne pra obter atenção... E Hoje por mais que procurasse não conseguia mais encontrar aquele sentimento... Talvez tudo não passara de um sonho que acordara numa realidade dura e cinza, estava fazendo seu melhor, não por Carlos mas por si mesma, precisava ser justa consigo mesma. Olhou pras árvores e viu um casal de passarinhos, coisas que só reparamos quando estamos vulneráveis, estava frágil e sabia disso.

Acendeu um cigarro e sentou no banco da praça, o lugar era bonito, mas mal cuidado... Ouviu seu celular apitando e ali estava brigando pra encontrá-lo na bagunça que era sua bolsa... Finalmente o achou, leu a mensagem... Uma lágrima solitária escorreu em seu rosto... Precisava dar um basta nisso...

_A Qualquer Preço

Continua...

O mundo todo é hostil...

Uma pausa na história... estou trabalhando na continuação mas com muito carinho. mas nada quer alguns versos de um poema não ajudem...

eu nunca imaginei que Los hermanos pudesse ser tão bom...

De Onde Vem A Calma
Los Hermanos

Composição: Marcelo Camelo


De onde vem a calma daquele cara?
Ele não sabe ser melhor, viu?
Como não entende de ser valente
Ele não saber ser mais viril
Ele não sabe não, viu?
Às vezes dá como um frio
É o mundo que anda hostil
O mundo todo é hostil

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" Pensando Nela "

Neste instante em que escrevo, estou pensando nela,
longe de mim, no entanto, em que estará pensando ?
- quem sabe se a sonhar, debruçada à janela
recorda nosso amor, a sorrir, vez em quando...

Ou terá tal como eu, esse ar de alguém que vela
um sonho que estivesse em nosso olhar flutuando ?
Ou quem sabe se dorme, e adormecida e bela
o luar lhe vai beijar os lábios, suave e brando...

Invejaria o luar... É tarde, estou sozinho,
ela dorme talvez, e não sabe que ao lado
do seu leito, a minha alma ronda de mansinho...

Nem vê meu pensamento entrar pela janela
e ir na ponta dos pés murmurar ajoelhado
este verso de amor que fiz, pensando nela!


See Yaa

terça-feira, 24 de março de 2009

Metamorfose

mais um post... pouco mais de 10 horas após o último... Chega de escrever por hora... tenho uma idéia legal mas essa quero esmerar com muita calma pra não perder a beleza.

Eu acho que podia tatuar essa parte da música no corpo hoje...

"Último Romance - Los Hermanos"

"E até quem me vê lendo o jornal
na fila do pão sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe, pequena "

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05h48min Carlos acorda, não havia dormido nada pois a ultima vez que vira o relógio eram 4:14, não tinha sono. Levantou, acendeu o interruptor, a luz cegou seus olhos, depois desse ligeiro desconforto acendeu um cigarro – seu fiel companheiro – e se pôs a andar pela casa, precisava fazer algo pra ocupar sua mente, estava enlouquecendo e aquilo era só o começo, fazia Três dias que a vira sair naquele táxi... Era possível que aquilo se arrastasse por meses... Não estava com ânimo de trabalhar, na verdade não tinha ânimo de viver... Seu trabalho não o prendia mais, suas músicas prediletas se tornaram tormentos, seu quarto uma cela... Não pertencia a nenhum lugar... Decidiu ir ver o mar, sabia que esse é um daqueles dias que devia ser honesto consigo mesmo. Tinha uma missão dura a cumprir... Telefonou para seu chefe, e com uma desculpa qualquer anunciou sua ausência naquele dia, não faria diferença estar lá ou não, ia ser só mais um dia vagando entre fotos e lembranças...

Pegou o carro e foi-se, uma parada rápida num posto de estrada, um café e uma fruta, notou que sua última refeição tinha sido o almoço do dia anterior, mas ainda sim não sentia fome. 09h30min lá estava no seu paraíso secreto. A areia grossa, a água cristalina, subiu nas rochas e caminhou mar adentro, andava displicentemente até chegar ao fim do rochedo, as ondas batiam forte naquele ponto criando uma nuvem de espuma, olhou pra trás, via a praia já longe, nunca tinha ido tão longe naqueles rochedos. Sentou sobre sua camiseta e acendeu um cigarro, sentia cada onda que chegava levar um pouco do seu nervosismo embora e deixar em seu lugar um pouco de saudade, se viu naquele mesmo lugar fazendo mil juras de amor pra sua amada, alisando seus cabelos revoltos e admirando sua pálida face que conseguia ao mesmo tempo em que demonstrava toda a maturidade da mulher que era trazia nos olhos a inocência de menina...

Ai ficou enfrentando seus demônios interiores, sabia que antes era feito de puro inferno por dentro, mas que hoje estava se redimindo, pagando pelo que fez e que cada lágrima que profanava aquelas rochas era merecida. Intercalado aos momentos de tristeza e revolta percebeu que se Ângela estava insegura, ela não podia estar, afinal ele tem que ser o cais onde ela precisa encontrar sua segurança, e pouco a pouco perdeu a noção de quanto tempo ficou ali, certa hora pensou:

_ É curioso como temos a capacidade de viver num planeta com bilhões de pessoas e querer só uma delas...

Levantou-se disposto a ir embora, mas antes tirou do bolso um pacote, uma pequena caixa azul, abriu-a e ali ainda estavam intactas, as alianças que no passado não teve oportunidade de entregar, admirou-as mais alguns momentos, viu seus nomes gravados nelas, mas não podia mais guardar aquilo, elas faziam parte de um passado que não existia mais, aquelas duas pessoas não existem mais, são agora 2 novas pessoas então no momento certo merecem outras alianças. o mar há de sepultar os erros do passado, levar estes erros pras profundezas e trazer de volta apenas as coisas boas. Apertou-as com força e arremessou o pacote o mais longe que pode, antes mesmo que elas caíssem no mar virou-se e começou a retornar pelos rochedos, sem olhar pra trás, sabia que havia dado um passo importante, matara definitivamente o antigo Carlos, pois só o novo de si poderia fazer frente a nova Ângela que emergira.

Quando estava deixando aquele santuário pensou em voz alta:

_ O velho Carlos morreu e foi sepultado hoje no mar, o novo nasceu em algum lugar dentro de seu peito Ângela e eu vou resgatá-lo...

_ ... A qualquer preço

segunda-feira, 23 de março de 2009

Depois do furacão... a Incerteza

Mais um conto esmerado... ja tenho ideia pra continuação, começo a escrever amanha mas talvez o poste na quarta.

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Depois do furacão... a Incerteza

8 da manhã, ele acorda, está atrasado, algo que nos últimos dias tem sido uma constante, seu corpo dói, cada músculo... ele ignora o som estridente do celular e lembra a noite anterior, talvez se a tivesse encontrado tudo fosse diferente... Talvez não... Ao levantar um grito, pisara em um pedaço de vidro que sobrara da garrafa de whisky que se quebrara na tarde anterior, o sangue começa a escorrer devagar, viscoso e... Vivo, sim estava vivo, apesar de tudo... E isso o deixou contente, saber que estava vivo para enfrentar mais um dia...

Um banho rápido vestiu-se e limpou a lambança que ficara seu quarto... Olhou no relógio 08h40min, precisava sair, não tinha tempo de comer, se bem, que comer é algo que praticamente não havia feito nos últimos dias, tem passado todos os dias com 1 ou 2 sanduíches apenas, e o mais estranho é que não sentia fome... Acendeu um cigarro e saiu, tossia muito, culpa dos inúmeros cigarros que naquele momento se faziam necessários.

E o dia foi passando... Por mais que tentasse, ele não conseguia se concentrar, quando menos esperava estava lá remexendo em fotos antigas, remoendo lembranças... então decidira pegar o telefone e ligar pra ela, nessa hora teve medo... Vacilou... Mas não, prometera a si mesmo viver sem medo, pegou o telefone e ligou, ela o atendeu com a voz trêmula e combinaram de se ver no fim do dia, um café apenas, nada mais. Não devia esperar nada mais que isso.

É chegada à hora, ao vê-la sentiu-se criança com aquele frio na barriga e mais uma vez ele... O medo... Respirou fundo e foi de encontro a ela, ela estava linda como sempre, mas seus olhos estavam trêmulos, se cumprimentaram meio sem jeito, ele queria pegá-la no colo, beijá-la mostrar o quanto ela era importante na sua vida, cuidar para que ela nunca mais sofresse, mas não podia... Conteve-se e sentaram, pediu um café e fez uma piada pra quebrar o imenso gelo que os separava.

_Meia Hora Depois

- Mas Ângela...

- Por favor, Carlos, não torne as coisas mais difíceis... isso não está sendo menos difícil pra mim do que está sendo pra você... Eu só preciso de um tempo pra me encontrar...

E ali Carlos entendeu que não havia mais o que ser feito... Fizera seu melhor, o possível, o impossível, o racional e todas as loucuras que podia, teria de aceitar... A viu pela última vez saindo da cafeteria entrando no taxi... Teve a impressão de vê-la olhar pra trás, mas não tinha certeza. Daquele momento em diante não saberia mais quando voltaria a vê-la... Ou se voltaria... Um frio de terror percorreu sua espinha ao pensar isso... De qualquer forma estava sujeito ao destino, Ângela podia nunca mais querer vê-lo, podia conhecer outro homem que a fizesse feliz, não como ele a faria não tinha dúvidas, mas ainda sim podia acontecer.

Voltou-se a Deus, afinal isso é o que todo homem desesperado faz, voltou-se a Deus e mesmo não sendo um dos seus melhores filhos, pediu que ele olhasse por ele, afinal seu sentimento era legítimo, pediu também que ele desses Forças a Ângela e que tão logo fosse possível ele pudesse tê-la em seus braços.

Sentado mais uma vez em seu quarto sob a luz de um abajur pequeno olha pra chave presa em seu pescoço, ele sabe que aquela é apenas um chave qualquer presa a uma corrente, mas sabe que ela simboliza muito mais que isso, sabe que aquela é a chave para sua felicidade e que a porta a ser aberta por essa chave se afastava cada vez mais dele dentro de um taxi em algum lugar...

Uma lágrima solitária lhe correu a face, 2 da manhã, precisava dormir ou iria se atrasar no outro dia... novamente... Carlos sabia que os próximos dias... Semanas... E talvez meses fossem de incerteza, insegurança, que teria que aprender a conviver com o medo, mas sabia que isso seria mais uma provação que teria de passar para poder tê-la de novo em seus braços e por isso aceitou o desafio.

Acendeu um último cigarro apagou as luzes e pensou:

_ Pode destruir meu corpo, mas jamais atingirá o meu espírito

Não sabia exatamente pra quem dirigia aquilo, talvez para o mesmo Deus que há minutos atrás pedia apoio, mas aquilo lhe fazia sentir-se melhor... Mas enfim, era humano, limitado e seus defeitos é o que o tornava único. Dormiu em meio a uma oração...

No Olho do Furacão

Me atrevendo a rascunhar algumas linhas...

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No Olho do Furacão.

Ali estava, sentado no chão, no canto de seu quarto sujo e empoeirado, que há dias não era tocado pela luz, tendo como companhia apenas uma garrafa de whisky e alguns maços de cigarro que quase ininterruptamente eram acesos, talvez como uma tentativa chula de acalmar o grito que destruía seu tórax e queimava sua alma, ou talvez essa fosse uma forma de tentar dar cabo de si mesmo, mesmo que lentamente, o mais longe que sua covardia lhe permitia chegar.

Olhando para o copo vê suas digitais, talvez alguém que olhasse para elas diria com convicção a quem pertenciam, mas nenhuma ciência no mundo o reconheceria se o visse naquele instante, sua armadura outrora rachada, virara pó, e todo seu castelo desmoronara, aquele que por muito tempo fora o juiz que proferia verborragicamente pareceres sobre os que estavam a sua volta havia se tornado réu. Naquele instante não se preocupava com o labor que o aguardava no dia seguinte, o gosto amargo do trago lhe trazia de volta a realidade, ele era um fracasso, o que mais importa?

Fecha os olhos e mais uma vez como no mito de Prometeu que foi preso e condenado por Zeus no alto de uma montanha, aonde todos os dias uma águia gigante vinha comer-lhe as vísceras que eram regeneradas a noite, ficando fadado a sofrer por toda a eternidade, via mais uma vez aquilo que estava com todas as suas forças tentando esquecer, todas as vezes que fugiu, que foi covarde, do sofrimento que causou a ela e as cenas se sobrepunham, como testemunhas de um grande julgamento onde não há chance de absolvição.

E o tempo passa... Minutos... Horas, aquele homem cada vez mais depravando sua existência... Reconhece seu erro, mas isso não é o suficiente, ainda sente na carne a dor daquelas unhas que lhe tiraram sangue, queria revidar, queria sentir raiva, queria odiá-la... Quem sabe assim se libertaria da culpa, mas no fundo ele sabia, de nada adiantaria, isso seria apenas vestir outra armadura e correr pra outro castelo, devia enfrentar, pelo menos dessa vez, provar pra si mesmo que era capaz, que a amava e que enquanto tiver forças iria continuar lutando, nesta hora lembrou-se de algo que foi a faísca que lhe faltava para acender novamente a chama da esperança em seu peito, lembrou-se daquela voz doce lhe dizendo:

_ A qualquer preço, me ouviu bem?

Levantou-se decidido a encontrá-la, tomou um banho gelado e saiu, deixou o carro na garagem, pois sabia que não teria condições de dirigir, chamou um táxi e partiu rumo ao espetáculo, e pela primeira vez em muito tempo sentia-se esperançoso e vislumbrando um final feliz. Entrou no táxi, anunciou seu destino e foi observando a noite, em meio a solidão das ruas percebeu que não havia lua no céu, tampouco estrelas, e uma garoa fina começara a cair, todo aquele clima de trevas sufocou a esperança que havia no seu coração, seu olhos umideceram.

Já estava bem próximo ao local, o trânsito estava infernal, pessoas e carros se amontoavam ferozmente, pagou o táxi, desceu e fez o restante do trajeto correndo, minutos depois estava em frente à entrada, olhou o portal e teve medo, quis voltar, desistir, acendeu um cigarro, respirou fundo e entrou. Começou a andar a esmo, afinal não tinha nenhuma pista de onde ela estaria... Deu-se por conta que seria quase um milagre conseguir encontra-la ali, entre milhares de pessoas... Mas era exatamente disso que precisava, de um milagre.

Quase uma hora se passara e ele continuava ali, em meio à multidão que festejava, procurando por sua amada, as pessoas naquele contexto não tinham rostos, eram apenas espectros malignos que estavam impedindo-o de encontrar sua amada, tinha a impressão de ver no olhar delas uma felicidade sádica ao olhar pra ele, como se todos ali soubessem o que fazia ali. De repente teve a impressão de ter visto sua amada, sua alma começou a arder e correu em sua direção, mal sabia ele que era a isca final, a mais recente piada do destino, foi tirando tudo e todos do caminho, ao chegar próximo a uma armação de metal, viu que se enganara, era apenas uma pessoa qualquer, mas foi nessa hora que começou a ouvir aquela música...

Pediu a Deus que fosse engano, qualquer coisa menos aquilo, lembrou de tudo o que sonhara um dia dizer a ela ao som daquela musica, começou a chorar copiosamente, já não enxergava mais as outras pessoas apenas andava. Antes que a música chegasse à metade não suportou, sentiu o céu caindo sob seus ombros, caiu de joelhos em meio a terra e a grama molhada, chorando pediu a Deus que o libertasse do sofrimento, queria tirar aquela dor do peito nem que pra isso precisasse arrancar seu coração com as próprias mãos, e por mais que as pessoas se aproximassem tentando acalma-lo ele só pedia pra ser ignorado, encostou-se na armação de metal e ali ficou, catatônico, já não ouvia mais música alguma, não via mais ninguém, as pessoas passavam por ele, alguns tropeçavam por engano mas ele não esboçava reação alguma e ali ficou como se sua alma tivesse abandonado seu corpo, e talvez ela o tenha feito... talvez não fosse digno dela...

Quando recobrou a consciência olhou ao seu redor, não havia mais música alguma, não havia mais milhares de pessoas, talvez centenas, extasiadas de alegria já nem se davam ao trabalho de se preocupar com o pobre infeliz de roupas sujas e olhos inchados, e naquele momento ele percebeu... Falhara novamente... Levantou, olhou para a chave que trazia presa a um cordão pendurada no peito, lembrança de uma jura de amor feita no passado que ele não estava disposto a esquecer. Colocou seu chapéu e saiu sem nenhuma pressa, afinal, mais uma vez falhou como em tudo o que tinha feito até então... Começou a andar e repetiu pra si mesmo:

_ A qualquer preço.