quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Estrada da Alma

Um homem solitário não teme o frio...

Mas isso não significa que você não se pegue nestas noites frias sentado na cama com um livro na mão e olhando pro espaço ao seu lado imaginando que ali poderia ter alguém, ou que o vento frio que entra por entre as frestas da janela quando você sai do banho não lhe cortem a carne, mas o frio de maneira geral traz aquele clima intimista tão caro aos desgraçados como eu, nestes dias você pode andar pelas ruas com as mãos nos bolsos e olhar perdido sem que as pessoas olhem para você como se fosse algo transgressor, existe uma beleza intrínseca na tristeza que caras como eu conhecem e valorizam, mas que para os bípedes mundanos só salta aos olhos nos momentos clichês tão desgastados no cinema.

E não tente se enganar que uma noite quente possa te trazer conforto, pois em uma dessas noites você pode se deparar com sua garota lhe dando as costas após lhe tirar o chão, lhe dizer que aquele é o derradeiro momento, e que você nunca mais a terá em seus braços. Mas existem vários tipos de pessoas, existem os conformados, os que acreditam que as coisas se resolvem num golpe do destino e existem os desgraçados como eu, e por desgraçados entende-se apenas os “desprovidos de graça” e isso não é necessariamente ruim.

Estes homens são aqueles que vivem verdadeiramente em função de algo que os define, uma crença, uma ideologia política ou um sentimento... Você pode tentar forçar a barra, brigar com seu destino, mas no final chegará ao derradeiro momento, aquele onde você deve escolher entre aquilo que o define ou a um espectro de si próprio. Esta é a hora em que você olha pra dentro de sí e percebe que o preço a ser pago pelo sucesso da causa é alto, o preço muitas vezes são seus próprios sentimentos. Você pode fingir que não entendeu, ou se negar a acreditar, mas quando realmente se dá conta disso é o momento eu que tudo é posto em cheque.

Essa é uma estrada de mão única, não há volta. Claro que sempre pode haver os que desistem no meio do caminho no alto de alguma ponte ou com uma bala na cabeça. Nesta hora você percebe que talvez a tua participação neste mundo tenha se encerrado e que deste momento em diante você deixou o protagonismo da sua vida e passará a fazer apenas algumas pontas em pequenos filmes de quinta categoria decadentes, mas os que pensam assim na verdade nunca tomaram a decisão, apenas procuraram poesia num mundo cinza. Quando abdicar dos teus próprios sentimentos for à única chance de trazer sucesso à causa não há outra escolha possível, e essa é a verdadeira escolha. O começo desta estrada é escuro, sujo e perigoso para afastar dela aqueles que não têm certeza se devem estar ali, pois acordar todos os dias e enterrar seus sentimentos numa cova cada vez mais profunda é uma tarefa ingrata, mas necessária. Se possível fosse refletir as retinas destas almas no derradeiro momento de sua morte, o que se veria ali seria a imagem de que valeu a pena, pois só um sentimento verdadeiro é capaz de conter-se por uma vida inteira na esperança de que a causa se concretize, ou que de alguma forma aquilo contribua para que o outro seja feliz.

No meio da estrada podem existir outras causas, outras mulheres... Mas no fundo você sempre sabe que ainda que você a abrace, jamais abanadora aquela estrada e tudo se resumirá a paliativos, pequenos torrões de açúcar adoçando uma realidade amarga. E nada impede que você faça uso deles, mas você pode fugir do seu destino, mas não pode negá-lo. Não existem “planos B” nessas horas, ou você vive em função daquilo que acredita ou estará desperdiçando sua vida, só existe um único motivo coerente para que Deus tenha criado a todos nós, para que busquemos a felicidade, ainda que esta felicidade esteja em abdicar diariamente de seus sentimentos. Você pode encontrar força no fundo de alguma garrafa, ou em alguma outra merda qualquer como se isso fosse algum tipo de altruísmo, mas não, isso não é nenhum tipo de altruísmo, pois não é algo que se faça pelo outro, é algo que se faz por si mesmo.


E é exatamente por isso que afirmo que homens solitários não temem o frio, pois estes homens trazem consigo vários demônios em sua alma, e estes demônios não o mantém aquecido, mas te lembram constantemente que existem dores muito piores do que um simples golpe de vento frio.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Na Penumbra eu confesso meus pecados


Na penumbra onde me encontro, nos confins do meu castelo de cartas marcadas, sentado no trono que me confere o título de Rei dos Idiotas, posso confessar todos meus pecados, pois ninguém vai ouvi-los, e ainda que o fizessem ninguém se importaria. Outrora, nem faz tanto tempo assim, vivia nesta mesma corte, cercado por todos meus demônios, cada qual trazendo consigo uma orientação que era até então seguida à risca por mim, Mas foi então Deus, que conforme a confissão que virá a seguir, eu resolvi exterminar estes demônios, um a um, a dúvida que resta é, o que mereço por exterminar todos meus demônios? Perdão? Penitência? Ou a aprovação divina? Fica a dúvida.

Deus, espero que não se importe de conversarmos enquanto tomo meu velho jack e Desculpe pelo revólver sobre o disco da Beth Harth, o uísque tem sido minha melhor companhia nesses tempos difíceis e a arma fica ali como um bote salva vidas caso todo o resto naufrague, uma saída de emergência se é que você me entende. Mas já divaguei demais, não pretendo tomar mais do seu tempo do que seja realmente necessário.

Tudo começou quando eu estava ali, procurando alguma companhia barata pra me divertir e o primeiro demônio me disse:

 - Não vá, você pode ficar em casa com seus Dylan´s e Cash´s esperando que ela apareça, esperando que ela lhe dê alguma atenção e as coisas fúteis do dia a dia confortem o vazio em seu peito. Apague as luzes, aumente o som e espere, é o melhor a ser feito.

Sem pestanejar, arremessei-o pela janela e não senti remorso algum quando vi a mancha vermelha se espalhando em volta da silhueta imóvel na calçada. Fechei a janela, acendi um cigarro, servi-me de mais uma dose e fui para a cozinha preparar algo pra comer. Foi então que sentado na banqueta da cozinha ali estava o segundo deles, ao me ver abrindo a geladeira sorriu e disse:

- Você não precisa de comida, já tem toda a energia que precisa naquela garrafa e no seu maço de cigarros – disse enquanto apontava para a estante repleta de garrafas de bebida – não precisa perder seu tempo cozinhando e cuidando dessas coisas fúteis. Está pensando que você é o que? Algum tipo de padre ou bancário?

No primeiro momento, aquilo fez sentido, não sentia fome na verdade, tampouco necessidade de comer, mas depois de alguns segundos ali parado, me lembrei que mais do que saciar a fome, aquilo era parte de todo um processo de estar bem consigo mesmo, ocupar o tempo e manter-me saudável, cinicamente fui até o armário, peguei um cutelo desses pesados e arremessei na direção do pobre demônio sentado na banqueta, acertando-o em cheio na testa, naquele mesmo instante caído ao lado da porta o demônio transformou-se em cinzas.

Alguma poucas horas depois lá estava eu sentado no balcão do bar, embalado pelos acordes de uns blues e entenrecido por um velho scoth, conforme o tempo passava notei um belo par de olhos castanhos flertando em minha direção, por algum tempo agi como se não fosse comigo, pois custei um pouco a crer que de fato era direcionado a mim aquele olhar inocente e sedutor. Quando finalmente me convenci, fui ao banheiro dar uma arrumada no visual visando à abordagem que faria.

Tão logo entrei no banheiro, em pé ao lado da porta vi outro conhecido demônio, que ao cruzar seus olhos com os meus disse num tom severo e dedo em riste:

 - Pode tirar o cavalinho da chuva meu caro... Você acha mesmo que uma senhorita bonita como aquela vai querer algo com um derrotado como... Você – e riu sarcasticamente – sem contar que, já pensou que ficar por aí vadiando te afasta cada vez mais... Dela? Retorne para sua vigília, pois um dia ela há de perceber o erro que cometeu e você precisa estar lá para não botar tudo a perder, novamente...

Como quem leva um soco no estômago, ali parei, me olhando no espelho atingido por cada uma daquelas palavras. De fato, não havia nada que alguém como eu pudesse oferecer aquele belo par de olhos castanhos, da mesma forma que no fundo, a imagem que povoava meus sonhos era a do dia em que arrependida, minha garota voltasse e eu, sem deixa-la pedir desculpas, apenas acolheria em meus braços e iniciaria um novo ciclo em nossas vidas.

Deus, como é difícil enfrentar seus demônios interiores, aqueles que sabem exatamente aonde te atingir, aqueles que com um mínimo de esforço te deixam de joelhos, entregue, esperando pela doce redenção da morte. Mas a morte não redime aqueles cujo único crime é viver, aqueles cuja a dor é tudo o que lhes sobra. A morte nesses casos, não traz redenção, e sim, sacramenta a covardia de quem fugiu a luta, e eu nunca fui dos que fogem a luta. Foi então que um lampejo de coragem brilhou dentro de mim e sem raciocinar, tomado por uma raiva repentina afoguei aquele maldito demônio na privada.

Recomposto, me arrumei e voltei para o balcão, e para o meu espanto, a garota não estava mais lá, talvez tenha desistido de esperar pelo covarde que se escondeu no banheiro, ou talvez tenha conseguido companhia melhor, fato era que – mais uma vez – a oportunidade havia passado e eu não havia tido competência em aproveitá-la. Deus, se o que dizem a teu respeito for verdade, só você sabe como me senti naquele momento e nas horas a seguir enquanto me embriagava encostado no balcão do bar. Já com o dia amanhecendo, enjoado e cambaleado voltei pra casa. Ao entrar no meu palácio funesto, qual foi minha surpresa ao ver sentado confortavelmente no meu quarto outro demônio, mas esse com um ar muito mais ancião e confiante. Ele apenas olhou pra mim enquanto eu entrava aos tropeços no quarto e disse:

- Vá descansar meu jovem, cuidarei de ti por hora e amanhã conversaremos.

Pois bem, dormi como uma pedra e ao acordar nem me lembrava do velho demônio ao meu lado, apenas tateava meu maço de cigarros e meu cinzeiro, e sentia o gosto amargo na garganta, sentei-me na cama e ouvi sua voz rouca e serena.

- Bom Dia Jovem

Virei-me de sobressalto fitando aquela figura emblemática e ali ficamos conversando por horas, diferente de todos os demônios que o precederam, aquele não me dizia o que fazer, apesar de saber tudo o que havia sido feito, ele apenas ouvia meus desabafos e sempre trazia palavras reconfortantes. Com o passar dos dias, semanas... Percebi que apesar de nunca me dizer o que fazer esse meu novo e talvez único amigo sempre entrava em minha casa com alguma bebida e cigarros. Mesmo sem dizer, implícito em tudo aquilo estava uma saída e me vi influenciado por ele.

Foi por isso Deus, exatamente por isso que o chamei aqui, Você deve estar achando estranho que nossa conversa esteja sendo acompanhada pelo velho demônio ao nosso lado, uma vez que eu disse ter exterminado a todos. Mas, na verdade percebi que este velho que nos acompanha não é um mero demônio, é apenas minha consciência se manifestando em um momento de desespero e necessidade, e eu não te chamei aqui apenas para confessar meus pecados, mas também pra ver qual é o teu conselho pra esse teu filho tão ingrato. E não me venha com aquela história de dar a outra face, ou de linhas tortas, como você já deve ter percebido, menter-me ao lado de ambos é uma missão praticamente impossível e um dos dois continuará comigo neste quarto, resta saber quem será.

Não Deus, isto não é um blefe, tampouco um leilão blasfemo, é apenas um grito desesperado por sanidade em meio a um turbilhão de possibilidades, e eu entendo seus motivos, sei também o quanto deixei a desejar como fiel servo do teu rebanho mas também faltei muito perante minha própria consciência e pago o preço por ter negligenciado a ambos. Se me arrependo disso? Talvez, mas isso não importa agora.

Senhores me desculpem a imensa presunção. Mas por anos vivi sozinho clamando pela ajuda de ambos, e só os tive agora, depois de cortejar a insanidade, e após ouvi-los e sem julgá-los pelas suas motivações tomei minha decisão, infelizmente isso significa uma despedida para um de vocês, pois não nos encontraremos mais em vida, talvez eu seja julgado por isso após minha morte, mas pra todos os que perderam a alma, pouco importa a direção que a vida toma.

Pegou a arma sobre o disco e por um segundo foi possível ver nos olhos do escolhido as pupilas dilatadas num misto de espanto e decepção. E o que se ouviu após isso foi um estampido ensurdecedor e o som rouco do corpo caindo no chão.



quarta-feira, 13 de março de 2013

Vagando Pela Noite Descobri...



Chovia... O suficiente para incomodar, mas não o suficiente para impedir aquela caminhada, a cada quadra que se seguia o entorno ficava cada vez mais sombrio, se afastava dos bares e dos jovens que bebiam despreocupadamente e embrenhava-se naquela região que ficava cada vez mais ignóbil.

Quase não haviam luzes aonde estava e as poucas que vinham dos postes próximos, brilhavam tímidas, num tom amarelo que quase transformava o cenário em uma ilustração de um livro velho. uma pessoa comum temeria pela sua segurança naquele lugar, mas não ele, naquele momento haviam questões mais importantes em sua mente.

Desistiu do guarda-chuva, prendeu-o na cintura e voltou a andar por entre putas e mendigos enquanto procurava aquietar sua mente, de repente, percebeu que havia comprado cigarros, mas, esqueceu que precisava acendê-los, mais alguns passos e parou ao lado de uma jovem encostada no batente macróbio de uma pequena porta iluminada por uma luz neon azul.

(Carlos)  - A senhora tem fogo?

(Prostituta) - Pagando o preço tenho sim moço, se me pagar um drink antes o fogo fica mais forte - E riu enquanto se aproximava do rapaz com movimentos friamente coreografados que deixavam a mostra um belo par de pernas.

(Carlos) - Ah Desculpe, me refiro a outro  fogo - estendeu o cigarro em direção a prostituta -.

(Prostituta) - Tenho sim, mas da próxima vez fala logo o fogo que vai querer.

Retirou um isqueiro escondido entre o par de seios voluptuosos, Carlos esqueceu-se completamente da sua postura usual e perdeu-se na visão a sua frente, até que, quando se deu por conta, havia uma mão estendida a sua frente com um Bic amarelo.

(Prostituta)  - Vai acender o cigarro ou vai ficar olhando pros meus peitos? já disse, tem certeza que é só esse fogo que você quer?  Me divirto com esses homens viu...

(Carlos)  - Desculpe - disse Carlos envergonhado, acendeu o cigarro rapidamente e devolveu o isqueiro a jovem, voltou a andar como um cão vadio olhando para o chão.

Não muito longe de lá, percebeu uma figura embaixo de um cobertor vindo em sua direção, seguiu na mesma direção até que ouviu:

 - Moço me arruma um cigarro?

Olhou melhor para a silhueta embaixo do cobertor acinzentado e viu um homem que devia ter aproximadamente sua idade mas que definitivamente não tivera a mesma sorte na vida, não pelos dentes podres ou pelas cicatrizes mascaradas pela barba desgrenhada, mas sim pelo olhar sofrido que trazia no rosto. Neste instante pensou em oferecer o cigarro, mas lembrou-se que não tinha isqueiro e sentiu nojo em oferecer o próprio cigarro aceso para servir de brasa, acendeu ele mesmo um cigarro e estendeu ao mendigo que retribui dizendo:

(Mendigo) - Ta querendo comprar uma droga?

(Carlos) - Não, tenho cara de quem quer comprar droga?

(Mendigo) - Sei lá, por que mais alguém viria aqui as 3 da manhã embaixo chuva e sozinho se não fosse pra comprar um baseadinho?

(Carlos) - Não estou aqui pra comprar nada, só estou caminhando - disse num tom ríspido enquanto virava pro lado e voltava a caminhar deixando a silhueta castigada pra trás.

Andando a passos largos colocou-se a pensar nos dois episódios que acabara de presenciar, as condições em que estavam a prostituta e o mendigo e por um momento seus problemas  mudaram de perspectiva e pareceram muito menores que antes. Foi então que se deu conta, caminhando pela noite descobriu que era humano, e como tal, tem o costume de enxergar seus próprios problemas, como os mais graves de toda a humanidade. E seus passos soaram mais leves naquele fim de madrugada.


sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Se tá perto de mim tá mais longe do céu"

Agora me diz, o que é que eu vou fazer

Mandar tudo a merda pensando em você

Minha passagem pro inferno em dias assim

O rato avisou que o queijo tava no fim


Eu não prometi nenhum paraíso

Pra ter você, fiz o que foi preciso

E agora eu ando sozinho estancando um sorriso cruel

Se está perto de mim tá mais longe do céu

Eu não queria essa dor mas admito que fiz


Uma balada pra quem não me quis

Uma balada pra quem não me quis


O dinheiro na cama, uma puta de saideira

Seu retrato nua pregado na geladeira

Os amigos no bar, a noite que me vomita

E agora toda essa paz... pro resto da vida...


Eu não prometi nenhum paraíso

Pra ter você, fiz o que foi preciso

E agora eu ando sozinho estancando um sorrio cruel

Se ta perto de mim tá mais longe do céu

Eu não queria essa dor mas admito que fiz


Uma balada pra quem não me quis

Uma balada pra quem não me quis


Créditos: http://www.youtube.com/watch?v=wVtkwkNbXcw&feature=BFa&list=PL5AB493415012D01D&index=5

terça-feira, 18 de agosto de 2009

"Como você punirá aqueles cujo remorso já é maior do que os seus crimes?" (Kahlil Gibran)

Sentou-se, o relógio no alto marcava 17:45, pediu um café, procurava mostrar-se forte, mas por dentro havia uma série de sentimentos desconexos, um frio lhe percorria a espinha, tal qual um adolescente prestes a dar seu primeiro beijo, tinha um medo colossal que tudo desse errado e pressentia o pior. Mesmo assim não perdeu a esperança de que aquele encontro seria o início do resgate de sua felicidade, um encontro consigo mesmo, a libertação de seu ethos mais puro e sincero, talvez o único que pudesse torná-lo feliz novamente.

Alguns minutos após, ela apareceu, altiva, firme, mas demonstrava no olhar um pesar, quase um luto, talvez porque soubesse que estava prestes a sepultar aquele que um dia fora seu grande amor, em alguns instantes iria pela última vez encarar os olhares inconvenientes de Carlos, inconvenientes porque traziam neles um sentimento que por muito tempo ela carregou mas que agora se foi, perdeu-se na areia do tempo.

- Alguns minutos de conversa se passaram até que:

Carlos - Ângela reconsidere, reconheço, eu errei, mas se errei foi pelo medo de te perder, quis deixar que você vivesse e aproveitasse seus momentos, não quis te privar de nada, para um dia poder tê-la por completo pelo resto de nossas vidas.

Ângela - Não quero mais, você é muito caos para o meu mundo, seu jeito incorrigível, amargo. Eu só preciso de paz, mesmo que sozinha e solitária. Meu caro, não tenho medo em dizer-lhe: Foi o amor da minha vida . Porem, mudei de vida e nela não há espaço para o nosso amor.
Aquelas palavras atingiram Carlos como disparo de arma de fogo, a cada palavra sentiu sua alma sendo atravessada, rasgada, e nada pode fazer, ficou impossível mostrar-se firme, em cada lágrima que derrubava, expressava a derrota, sentia sua alma escorrendo sob seu corpo e se esvaindo pelo ralo da racionalidade, não sabia definir o que sentia, e desta maneira Ângela deu um forte abraço em Carlos e enxugou suas lágrimas, era curioso, aquele que se orgulhava por jamais ter chorado na presença de estranhos, estava ali, chorando copiosamente em frente a dezenas de estranhos.

Ao ser abraçado por Ângela pensou que mesmo aquilo sendo um "prêmio de consolação" jamais esqueceria a sensação de tê-la novamente nos braços. Mesmo frio e distante sentiu por alguns poucos segundos o calor da mulher que amava.

Ângela - Bom agora me vou, e Carlos, gostaria que você soubesse que possivelmente nós não nos veremos mais.

Carlos - Ângela , antes de ir gostaria de te dizer mais uma coisa.

E por alguns instantes era notória a dificuldade que enfrentava, não conseguia falar aquilo que estava literalmente engasgado na garganta.

Ângela - Não precisa, talvez seja melhor que acabe assim.

Carlos - Não, eu quero dizer que não me arrependo de nada que fiz nem do que falei, quero te dizer que se um dia você mudar de idéia e quiser me ver que não tenha medo, pois foi exatamente esse medo que me tirou você, em qualquer momento de nossas vidas, me procure, pois só então eu poderei ser feliz. E queria dizer que vou sempre te esperar... Porque... Eu... Te Amo.

Estas últimas palavras foram seguidas por um soluçar de choro contido vergonhosamente por Carlos que tentava reservar o mínimo de dignidade que lhe restava.

E assim viu a mulher de sua vida se afastando, partindo para nunca mais voltar, sentia que junto com ela, perdia parte de si, não mais poderia ser o cara alegre que fora nos últimos anos, e que todas as incontáveis vezes que sonhou antes de dormir com o dia em que conseguiria tê-la em seus braços de forma definitiva, que cada um dos versos que fizera em sua homenagem foi em vão, em última instância o que restou fora talvez um grande sentimento de pena por parte de sua amada, e nada pior na vida do que ser digno de pena pensava Carlos.

Foi pra casa e tão logo entrou já foi pro chuveiro, entre as milhões de coisas que lhe passavam na cabeça lembrou de uma música que fazia todo o sentido pra ele naquele momento.

" So I thread the needle in my hands
Sowing my debt to the hoursands "

Sentia-se exatamente assim, pagando seus débitos com as areias do tempo. Quantas oportunidades teve de procurá-la, um telefonema, um e-mail, quantas vezes teve a oportunidade de fazer uma loucura pra mostrar pra ela que a amava e sonhava com ela constantemente, mas não... Acovardou-se, e só teve coragem de externar seus sentimentos e fazer todas as loucuras possíveis quando já era muito tarde, quando estas loucuras já não mostravam mais o amor que sentia, mas sim, todo o desequilibro que o acometeu.

Sabia que nada pior para um homem do que viver a dor do arrependimento, saber que o único culpado pela sua infelicidade era ele mesmo, jamais se perdoaria por isso. Saiu do banho e fez algo que se tornaria rotina daquele momento em diante, pegou uma pedra de gelo, um copo de whisky, seu maço de cigarros, fechou a janela do quarto, apagou a luz, colocou uma música num volume razoavelmente alto e deixou ao seu lado a caixa de calmantes para quando o álcool já não mais pudesse consolá-lo; E ali ficou, acompanhado de sua dor.

*Meses Depois*

7:00 AM, sábado, um horário atípico para estar acordado, a vida de Carlos mudara completamente em alguns meses, fora promovido no trabalho, mais responsabilidades e uma remuneração interessante, algumas mulheres passaram pela sua vida, era visto como um homem sério e respeitável por elas e por aqueles que o cercavam, estava em "franca expansão, se tornando um homem bom e honrado" segundo um grande amigo numa homenagem prestada a ele e alguns outros no grupo em que faziam parte. Tinha seu tempo tomado por constantes viagens e reuniões com pessoas importantes, tinha tudo pra ser um homem feliz e realizado, e o era aos olhos dos mais próximos, despertava a inveja de alguns e admiração de outros.

Mas o que aquelas pessoas não imaginavam é que tudo aquilo não era capaz de diminuir a dor e a desilusão que faziam parte do dia a dia de Carlos, não tinha um dia sequer que ele não lembrasse de Ângela, via suas fotos, e era assombrado pelos fantasmas do seu passado, fantasmas criados e libertos única e exclusivamente por sua própria culpa. Mantinha a mesma rotina, mas com doses cada vez maiores de álcool e calmantes, alias só dormia sob efeito dos mesmos, vivia uma mentira, enganava todos a sua volta fingindo ser feliz e realizado na esperança de talvez se convencer disso, mas no fundo tinha perdido tudo que o motivava a viver, e estava ali, dia após dia num teatro macabro que a vida lhe impôs, esperando quem sabe por um e-mail ou telefonema de Ângela para reacender a chama da vida que cada vez mais se apagava em seu peito.

Mas ali estava, em meio a manhã fria que se apresentava, sentado em frente ao computador, Carlos bebia o que restava do seu whisky, ao som de uma música melancólica que mais parecia um diálogo com sua consciência.

"Would you look at me now?
Can you tell me I´m a man
With these scars on my wrists
To prove I´ll try again...
Try to die again... Try to live through this night...
Try to die... again..."

Tinha consciência de tudo, do quanto sua vida havia mudado, do quanto deveria ser feliz, e principalmente do quanto estava agindo de forma destruir tudo aquilo que havia conquistado... Estava prestes a dar a cartada final com o destino, não conseguia mais suportar tudo aquilo, já não dormia direito nem com ajuda dos calmantes, já não anestesiava sua dor nem sob efeito de doses cavalares de álcool, nada mais adiantava, estava enlouquecendo, sabia que era um caminho sem volta, pegou o embrulho preto que guardava no fundo do armário, Desde o momento que o guardou imaginou que um dia ele seria útil.

*Horas Depois*

Entardecia, quem passava pela rua estranhava aquele homem sentado na calçada, barba mal feita e feição triste, catatônico olhando para o nada, até o momento que criou coragem, esperou um condômino abrir o portão para entrar com o carro e entrou, cumprimentou o indivíduo demonstrando naturalidade e subiu, no alto de um escada longa e estreita apertou a campainha e ali estava, linda, mesmo com os cabelos rebeldes e a cara amassada de quem fora acordada naquele instante, se mostrava completamente espantada com a visita inesperada, ficou indecisa se permitiria ou não que Carlos entrasse em sua casa.

Ângela_ O que quer aqui? – Ângela via na sua frente uma pessoa completamente perturbada, com olheiras saltando aos olhos, barba mal feita, e uma feição completamente diferente do que já havia visto em Carlos e isso começou a deixá-la preocupada.

Carlos_ Conversar; Preciso que você me deixe ser feliz novamente, em todo esse tempo jamais deixei de pensar em você, vivo assombrado pelos fantasmas que eu sei, eu mesmo criei, mas de qualquer forma só você pode me libertar deles, por favor querida, me deixe torna-la a mulher mais feliz do mundo.

Ângela_ Pelo amor... De novo tudo isso, Carlos por favor, não me faça repetir tudo de novo, você já teve todas as chances que pôde, infelizmente acordou tarde demais, eu queria muito ainda ser aquela que amava você para quem sabe ser a mulher que você procura, mas os tempos são outros, por favor, vá embora.

Carlos_ Não faça isso, você não faz idéia do quanto esses dias estão sendo difíceis pra mim, ter uma vida que todos julgam quase perfeita e ter que agir como tal mas no fundo ser um maldito infeliz remoendo o passado, você não sabe...

* Foi abruptamente interrompido por Ângela que bradou em alto tom de voz *

Ângela_ Você acha mesmo que eu não sei o que é isso? Já se esqueceu de tudo que passei por SUA culpa? Desculpe, mas você parece não se lembrar, sinto muito não ser a mulher que você gostaria que eu fosse, mas não se esqueça que por muito tempo você não foi o homem que eu gostaria que você fosse, gostaria muito que nós dois tivéssemos tido o “time” certo, mas não foi assim ok, então chega, CHEGA, entendeu? Não agüento mais tudo isso, que hoje seja a última vez que fazemos isso.

Carlos_ E será a última vez...

Abrindo o embrulho preto sacou de um revolver, apontou para Ângela e disse:

Carlos_ Desculpe, vim disposto a acabar com tudo isso, de uma forma ou de outra, não agüento mais, eu sei da dor que lhe causei, eu sei que hoje ela é toda minha... mas eu sei que não tive um só dia em que não me lembrei de você com pesar, e que frequentemente acordo abraçando o travesseiro e me desiludo ao perceber não ser você, que tentei tudo, absolutamente tudo pra te esquecer e a cada dia aumenta minha dor, eu te amei, sempre te amei, e não fui capaz de mostrar isso, eu errei muito com você, e talvez eu mereça cada segundo dessa dor, mas sou fraco e de uma forma ou de outra isso vai acabar, hoje...

Carlos parecia completamente transtornado, suas mãos tremiam, chorava enquanto falava e demonstrava estar completamente fora de si.

Ângela_ Calma, não faça isso... isso é loucura.

Carlos_ Sim, vivo uma loucura há tempos, e só quero me ver livre dela. Sinto muito que acabe assim, eu teria te dado o mundo se você permitisse, não culpo você, sei que em tudo isso só existe um único culpado, e esse sou eu, mas poderia ter sido tudo diferente, me desculpe.

Carlos engatilhou a arma, Ângela fechou os olhos pressentindo o pior, e então:

_NÃO – O grito foi seguito pelo barulho surdo do disparo, o som seco do corpo caindo no chão, a vizinha derrubou o copo de café que bebia no susto e correu pra ver o que acontecia e ao abrir a porta chocou-se com uma cena que ela sem dúvida jamais esquecerá. Um corpo caído no chão, um ferimento na cabeça que sangrava muito rapidamente e no canto da sala estava Ângela sentada no chão, abraçada em seus joelhos chorando, catatônica desacreditando aquilo que via.

E assim se encerra, aquilo que outrora seria um grande romance apaixonado, resumido a um capítulo dramático no livro da vida...

No bolso da jaqueta de Carlos, como uma memória póstuma havia uma carta endereçada a Ângela com os seguintes dizeres:

Ângela, diante de tudo isso só me resta dizer uma coisa: Desculpe. Abaixo uma singela lembrança que deixo em minha memória.

Os versos que te dou

Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...

E hei de faze-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escuta-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revive-los nas
lembranças que a vida não desfez...
E ao lê-los...com saudade em tua dor...

hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...
Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.

FIM

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Melancolia


Metal contra as Nuvens - Legião Urbana

Não me entrego sem lutar
Tenho ainda coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então

Tudo passa, tudo passará

E nossa estória não estará
pelo avesso Assim, sem final feliz
Teremos coisas bonitas para contar

E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe para trás -Apenas começamos
O mundo começa agora -Apenas começamos
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Esse conto tem algumas peculiaridades e inspirações mas não vou tratar disso agora, mas ainda retorno a isso no momento devido.
--------------------------------------------------------------------------------------------------

Melancolia


13h15min Carlos ainda não levantara, isso vindo dele era algo raro. Mesmo já tendo acordado há um bom tempo, não teve forças pra levantar, afinal, qual seria a diferença? Tomou mais um trago de seu whisky, acendeu um cigarro e ali deitado colocou-se a pensar... descobriu que findavam os dias de primavera da sua adolescência, findava o verão das suas alegrias e agora ali estava em pleno outono onde não se vêem sorrisos em sua alma. Harmonia só encontra com a chuva que displicentemente e triste cai ao sabor do vento como se proferisse loucura, o grito de quem já perdeu muito desde que a este mundo veio…

Deitado em sua cama que já o vira em melhores dias, não haviam lágrimas suficientes que traduzissem o turbilhão de sentimentos que o atormentava, ironia saber que, semanas atrás, eras o brilho lancinante da alegria, que caminhavas seguro de ti, confortado pelo sonho de ser amado, de enriquecer a vida de outros com a tua…

Agora, nada mais do que um farrapo, envolto em febre e desgraça, percorre o caminho de sonhos caídos, deixando os pesadelos de uma vida sem graça. Lembrando-se de quão doce era o teu sorriso, o quanto o aquecia saber que as brincadeiras próprias da infância apenas enriqueciam a tua curiosidade. Aquele dia em que em casa disse que estava contente pela presença dele e ele bobo tal qual um jovem garoto mal pode balbuciar quaisquer palavras.

Ah! Aquele brilho nos olhos e o lacrimejar de desculpas após teres dito alguma coisa com a qual ele não concordava… Peripécias de uma infância rica em sensações, experiências que ajudavam a moldar o teu espírito, a engrandecer a tua mente.Certo é que sabias o quanto reprovava a vida por ser tão injusta e insensível com ambos, mas as palavras por vezes não surtiam efeito e as raras vezes em que batiam faziam doer a alma.

Sabia que os fins de semana eram os mais cruéis, pois não havia nada nem ninguém que pudesse distraí-lo, era apenas ele e a saudade, e nessas horas ficava frágil, não conseguia combater sua tristeza. Decidiu escrever um e-mail a Carla, uma forma de a ter por perto, de alguma forma que só ele entendia.

Ângela,

Escrevo pra você ler quando chegar. Antes de tudo, quero que saibas que guardo em mim o amor que lhe está destinado. Digo isso porque acredito que o amor seja atemporal. Escrevo num passado-momento, que era, ou é, meu instante-agora, e um dia será nosso futuro-presente. Com o tempo, aprendi um pouco com os relacionamentos que não perduraram, e por isso, faço-lhe algumas recomendações:

Não tenha pressa em me encontrar. Chegue no momento exato. Ou erre de momento e chegue na hora que não estava programada. Não seja perfeita pra mim. Não espere perfeição de mim. Mas aprenda a conviver com as nossas diferenças. Respeite minhas diferenças. Não tenha medo dos clichês. Eles são parte essencial de um bom relacionamento. Um pequeno parêntese: Mesmo que você já tenha vivido momentos parecidos com outros, cada momento é único. Cada pessoa é única. E um dia você verá que o tempo não volta.

Portanto, amor, libere-se. Não tenha medo de falar de seus medos, de suas dúvidas, de seus anseios. Não jogue seu futuro em minhas mãos. Não aposte todas suas fichas em mim! Porque de todos os jogos que participei, os amorosos são os que mais deixam cicatrizes. Aposte em você. Acredite em você. Isso refletirá em mim e jogaremos de igual pra igual. Quando você chegar, chegue sem fazer barulho. Chegue serenamente. Na verdade, chegue como quiser. Chegue feito banda de heavy metal. Faça meu coração pulsar ao seu ritmo frenético. Quando chegar, não seja a pessoa que quero. Seja você. Porque é de você que eu preciso.

Não queira ter os mesmo gostos que eu. Chegue sem conhecer minha banda, meu cantor, meu livro ou poema preferido. Chegue tirando sarro do meu gosto musical. Chegue dizendo que o Mc Creu é o maior poeta de todos os tempos, pois com apenas uma palavra disse tanta coisa... E nós, às vezes, escrevemos tanto, falamos tanto que nossa prolixidade acaba por não representar nada. Não dizer nada.

Por fim, espero que atenda minhas recomendações, que atenda meus pedidos. Ou seja autêntica e vire minha vida de pernas pro ar, e faça apenas aquilo que tiver vontade. Aquilo que lhe der na telha. Por enquanto, guardo comigo a sua lembrança e o meu amor. Pra quando você chegar.

Após terminar de escrever sentiu-se orgulhoso, enviou o e-mail para Ângela e voltou a cama imaginando todas as reações que ela podia ter ao ler seu e-mail, e entre um trago e outro adormeceu, lhe agradava a idéia de dormir, pois assim passaria com mais facilidade pelos longos dois dias mais esperados por todas as demais pessoas mas que naquela situações haviam se tornado provações.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

um break pra conseguir terminar o próximo...

" Solidão "

Um frio enorme esta minha alma corta,
e eu me encolho em mim mesmo: - a solidão
anda lá fora, e o vento à minha porta
passa arrastando as folhas pelo chão

...Nesta noite de inverno fria e morta,
em meio ao neblinar da cerração,
o silêncio, que o espírito conforta,
exaspera a minha alma de aflição...

As horas vão passando em abandono,
e entre os frios lençóis onde me deito
em vão tento conciliar o sono

A cama é fria... O quarto úmido e triste...-
Há uma noite de inverno no meu peito,
desde o instante cruel em que partiste...