quarta-feira, 25 de março de 2009

Idiossincrasias - Primeira Parte....

Everything I Love
Alan Jackson

Coffee keeps me up and I can't sleep

And when I drink too much then I can't eat
Losing you has led me to believe
Everything I love is killin' me

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Idiossincrasias

06h30min ele acorda, assustado, olha ao redor e percebe que tudo não passou de um pesadelo, um dos tantos que vinha tendo ultimamente... Na televisão que esquecera ligada um programa religioso qualquer, estendeu o braço ao criado-mudo e acendeu um cigarro. Ficou ali alguns minutos ouvindo o sermão religioso enquanto fumava seu cigarro, um paradoxo moral pensou Carlos, porém de alguma maneira aquilo parecia interessante, não que ele concordasse com o pastor, mas na situação em que se encontrava as palavras do pastor lhe traziam certo conforto... Afinal é disso que as religiões vivem, vender sonhos aos desiludidos e naquele momento Carlos era um cliente em potencial.

Levantou, desligou o despertador do celular e foi tomar um banho, queria aproveitar aquele momento, há dias ele sacrificava muito desse momento em função dos constantes atrasos. Tomou seu banho, fez a barba e se vestiu. Quando estava saindo de casa viu seu reflexo no espelho e reparou, estava com aquela camisa azul, a mesma que deixara de usar a alguns meses, pois ela havia ficado muito apertada... Estava tão distraído que a pegara do cabide sem perceber, mas o curioso foi perceber que ela não mais estava incomodando, tinha perdido peso. Após o espanto inicial tratou com normalidade afinal, nada mais esperado de alguém que há dias não come nada além de 1 ou 2 sanduíches.

08h30min sentou-se na sua mesa e ligou seu computador, fora pontual pela primeira vez em muitos dias, precisava se livrar de algumas tarefas que deixara acumular e assim o fez por algum tempo até que foi novamente tomado pela melancolia e quando percebeu estava revirando fotos antigas no computador, pensando o que estaria fazendo Ângela naquele momento, cogitou ligar pra ela, mas no meio da discagem achou melhor não... Ela pedira um tempo para se encontrar e ele devia respeitar isso.

Só Deus sabia o quanto ele estava sofrendo, a agonia de ter sempre aquela dor no peito, perdera a conta de quantas vezes se escondeu no banheiro pra chorar, o quanto rezava pra que seu celular tocasse e fosse Ângela dizendo que decidira por dar uma chance a eles, sabia que no fundo isso era o melhor pra ambos, afinal depois de tantos desencontros, só assim poderiam ter certeza se foram feitos um pro outro ou não, eram adultos, não tinham nada a perder só a ganhar, via que Ângela estava se iludindo, traindo a si mesma sem saber, se fechando em uma concha pra não se machucar e tinha aquilo pra si como verdade travestida de que não estava segura de seus sentimentos, ou que talvez eles nem estivessem mais lá... E sabia disso, pois fora exatamente o que Carlos fizera durante muito tempo, enquanto se iludia tinha plena convicção do que sentia e só percebeu o quanto se iludia no dia em que viu que estava perdendo Ângela. Mas de qualquer forma, prometera respeitar o pedido de Ângela e iria cumprir, ela já sofrera muito por ele e Carlos viu o quanto ela é mais forte que ele por ter suportado muito mais do que ele estava sendo capaz.

Abriu a gaveta pra pegar seu cigarro e viu o bloco de receitas médicas em branco que seu amigo lhe arrumara, teve uma idéia, mas fez questão de abandoná-la rapidamente, pode ser uma saída mais fácil, mas no fundo é apenas mais uma fuga... Já fugira demais da vida, era hora de enfrentá-la. Desceu pra fumar, sentia-se melhor naquele dia, porem havia percebido que todo aquele desespero que outrora lhe dominava estava sendo substituído por uma profunda tristeza e desânimo, não tinha vontade de acordar pra mais um dia, afinal ia ser a mesma coisa de todos os outros, enquanto não resolvesse essa situação seus dias seriam sempre assim... Cinzas...

Precisava de distração, de atenção e enquanto não pudesse contar com os abraços de Ângela começou a buscar na agenda do celular alguma companhia pra beber e acabou encontrando Rodrigo, combinaram de se encontrar e no fim do dia Carlos guarda suas coisas, abre a gaveta pega seus pertences e meio que inconscientemente arranca a primeira folha do bloco de receitas, dobra e o põe no bolso da camisa... Pega seu celular digita um SMS, pronto estava feito.

11h50min Ângela pega sua bolsa e se prepara para almoçar, na verdade não tinha fome mas iria aproveitar pra caminhar um pouco, estava chateada, estava confusa, precisava se encontrar, aproveitar que finalmente Carlos parecia tÊ-la deixado em paz, ele não a entende, age como se fosse simples passar pelo que ela estava passando, nada mais duro do que negar a si mesma, olhar pra dentro de si e ver que nada mais é como fora no passado, mesmo quando se quer que seja diferente... Ele estava fazendo seu melhor, mas de nada adianta enquanto não conseguir reencontrar os velhos sonhos do passado.

Um suco de laranja e uma volta pela praça é estranho como a vida nos prega peças, parece que foi ontem, a noite fria, aquela convulsão de sentimentos, os olhos evasivos e inquietos de Carlos, fora obrigada a cravar as unhas em sua carne pra obter atenção... E Hoje por mais que procurasse não conseguia mais encontrar aquele sentimento... Talvez tudo não passara de um sonho que acordara numa realidade dura e cinza, estava fazendo seu melhor, não por Carlos mas por si mesma, precisava ser justa consigo mesma. Olhou pras árvores e viu um casal de passarinhos, coisas que só reparamos quando estamos vulneráveis, estava frágil e sabia disso.

Acendeu um cigarro e sentou no banco da praça, o lugar era bonito, mas mal cuidado... Ouviu seu celular apitando e ali estava brigando pra encontrá-lo na bagunça que era sua bolsa... Finalmente o achou, leu a mensagem... Uma lágrima solitária escorreu em seu rosto... Precisava dar um basta nisso...

_A Qualquer Preço

Continua...

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